06/10/2020 às 10h25min - Atualizada em 06/10/2020 às 10h25min

Indicação do desembargador Kassio Marques para ocupar uma vaga no STF agrava crise na base de Bolsonaro

O grupo dos desiludidos, já integrado por ex-ministros, como Sérgio Moro - que no passado chegou a ser cotado para uma vaga no STF -, tem aumentado.

A indicação do desembargador Kassio Marques para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) fez aumentar o número de antigos bolsonaristas que partiram para o confronto aberto com Jair Bolsonaro (Sem Partido), acusando o presidente de “traição” aos compromissos assumidos na campanha de 2018. O anúncio para a Corte provocou fortes críticas e uma onda de descontentamento, com ameaças de debandada e pressão para que Bolsonaro mude o nome do indicado.

O grupo dos desiludidos, já integrado por ex-ministros, como Sérgio Moro - que no passado chegou a ser cotado para uma vaga no STF -, tem aumentado. Os ataques vêm agora de todos os lados, principalmente da ala “raiz” do bolsonarismo, e a hasthag #BolsonaroTraidor desponta com força nas redes sociais.

Empresários, militares, evangélicos e ativistas ideológicos apontaram a escolha de Marques como “grave erro” e uma oportunidade perdida de nomear um “conservador” para a cadeira do ministro do STF Celso de Mello, que se aposentará no próximo dia 13. Na segunda-feira (5) Bolsonaro comparou a escolha do ministro à escalação da seleção brasileira. O encontro de Bolsonaro na casa do ministro do STF Dias Toffolli, no sábado (3), com a presença de Marques e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), agravou a situação.

O movimento Vem Pra Rua, que liderou manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), passou a criticar o presidente. “Na campanha, Bolsonaro prometeu enfrentar o sistema. No poder, Bolsonaro negociou a indicação de Kassio Nunes com Gilmar, Toffoli e Davi Alcolumbre. Existe traição maior que essa?”, perguntou o Vem Pra Rua em post publicado nas redes, também citando o ministro do STF Gilmar Mendes.

O movimento começou a entoar a palavra de ordem “Fora, Bolsonaro” e está sugerindo protestos em todo o País, no próximo dia 25. “Falando sério. Precisamos pensar numa forma de acolher quem desembarca dessa canoa furada do bolsonarismo”, disse outra mensagem do Vem pra Rua.

No Congresso, deputados como Joice Hasselmann - que foi líder do governo no Congresso e hoje é candidata do PSL à Prefeitura de São Paulo - SP, Alexandre Frota (atualmente no PSDB) e o senador Major Olímpio (PSL) fazem parte do time dos desiludidos com Bolsonaro. Ex-juiz da Lava Jato, Moro virou inimigo.

Bolsonaristas ligados ao mercado também deram sinais de desembarque. O tom mais forte veio de um dos responsáveis por apresentar ao presidente o ministro da Economia, Paulo Guedes, até pouco tempo atrás um dos pilares do governo. “Hora de desembarcar. Acabou. Um erro dessa envergadura não se faz por acaso”, reagiu Winston Ling, empresário e investidor sino-brasileiro, partidário da causa conservadora e do liberalismo.

Porta-voz do grupo “300 do Brasil”, a ativista de extrema-direita Sara Giromini, que chegou a ser presa em junho, acusada de organizar atos antidemocráticos, usou de ironia para subir o tom contra Bolsonaro.

“Que inveja eu tenho do Toffoli. Ele pelo menos ganhou um abraço do Bolsonaro”, disse Sara, em mensagem nas redes. “Não reconheço Bolsonaro. Não sei mais quem ele é”, emendou a militante, afirmando ter sofrido pressão do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para não atacar o Supremo nem o Congresso. O general admitiu ter pedido ao grupo para moderar suas posições, mas disse não ter havido “qualquer tipo de discórdia, reprimenda ou ameaça”.


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