21/11/2023 às 13h38min - Atualizada em 21/11/2023 às 13h38min

Diante de “catástrofe humanitária” no Oriente Médio, Lula cobra trégua determinada por resolução da ONU

Em discurso, presidente ressalta necessidade de preservar crianças, mulheres e idosos, critica deslocamento forçado de mais de 1,6 milhão de pessoas em Gaza e defende solução de dois Estados.

Redação
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República – Lula lamentou que só em 15 de novembro, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança tenha aprovado uma Resolução que foca na proteção de crianças
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou nesta terça-feira (21) a aplicação da resolução aprovada pela Organização das Nações Unidos há quase uma semana que determina uma trégua humanitária no conflito entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza.
 
O discurso se deu durante a Cúpula Virtual Extraordinária do BRICS, diante de outros chefes de Estado e Governo e chanceleres dos países integrantes do bloco (Rússia, Índia, China e África do Sul) e de representantes dos países convidados este ano a integrá-lo: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.
 
Lula lembrou que, desde o início da guerra, teve a oportunidade de conversar bilateralmente com diversos líderes da região. Reforçou a posição do Brasil de condenar veementemente os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, que fizeram inclusive três vítimas brasileiras. Reiterou o chamado pela liberação imediata e incondicional de todos os reféns, e enfatizou que os atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada e desproporcional contra civis.
 
“Estamos diante de uma catástrofe humanitária. Os inocentes pagam o preço pela insanidade da guerra, sobretudo mulheres, crianças e idosos. O elevado número de mortos – mais de 12.000 pessoas, sendo 5.000 crianças – nos causa grande consternação. Como bem disse o Secretário-Geral da ONU, Gaza está se tornando um cemitério de crianças”, afirmou o presidente.
 
Lula criticou uma das consequências imediatas do conflito, que foi o deslocamento forçado de cerca de 1,6 milhão de pessoas (70% da população de Gaza), sem que eles tenham perspectivas de retorno. Deslocamento que se torna ainda mais complexo diante da falta de água potável, de energia elétrica e de acesso cotidiano a alimentos e gás para cozinhar na Faixa de Gaza.
 
Credibilidade
Para o presidente brasileiro, as dificuldades para que o Conselho de Segurança da ONU chegasse a uma resolução, em particular devido à prática da instituição do veto pelos membros permanentes, demonstra a urgência da reforma das instituições multilaterais e coloca a credibilidade das Nações Unidas em jogo. Ele lamentou também que mais de uma centena de funcionários da ONU tenham perdido a vida desde o início do conflito.
 
“O Brasil não poupou esforços em favor do tratamento da emergência humanitária, da contenção da atual escalada e da retomada de uma solução duradoura para o conflito. Propusemos uma Resolução que contou com apoio da maioria dos membros, mas que infelizmente foi objeto de veto de um dos membros permanentes. A paralisia do Conselho é mais uma demonstração da urgência da sua reforma”, citou.
 
Lula lamentou ainda que só em 15 de novembro, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança tenha aprovado uma Resolução que foca em um dos objetivos essenciais: a proteção de crianças. “Neste momento, o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada pela Resolução seja implementada imediatamente”.
 
Dois Estados
Além de criticar o contexto atual da guerra, o presidente Lula cobrou dos parceiros do BRICS uma atuação para evitar que a guerra se alastre para os países vizinhos. “O Brasil não acredita que a paz seja criada apenas pela força das armas. Temos longa experiência que reforça nossa fé na paz criada por uma justa negociação diplomática”, disse.
 
Por último, o presidente lembrou que a guerra atual é consequência de “décadas de frustração e injustiça representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino”. Para o líder brasileiro, o reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível. “O Brasil seguirá pronto a apoiar todas as iniciativas que levem a uma solução política para esse conflito”.
 
Confira a íntegra do discurso do presidente
“Agradeço ao presidente Ramaphosa pela iniciativa de convocar esta reunião extraordinária para tratar da situação emergencial em Gaza.
 
Quero saudar a presença dos representantes dos países convidados a integrar o BRICS: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.
 
Desde o início do atual conflito entre Israel e Palestina, tive a oportunidade de conversar bilateralmente com praticamente todos os líderes aqui reunidos.
 
O Brasil condenou de maneira veemente os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro contra o povo israelense. Três brasileiros foram vítimas desses ataques.
 
Em várias ocasiões, reiteramos o chamado pela liberação imediata e incondicional de todos os reféns.
 
No entanto, tais atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada e desproporcional contra civis.
 
Estamos diante de uma catástrofe humanitária.
 
Os inocentes pagam o preço pela insanidade da guerra, sobretudo mulheres, crianças e idosos.
 
O elevado números de mortos – mais de 12.000 pessoas, sendo 5.000 crianças – nos causa grande consternação.
 
Há ainda 29.000 feridos e 3.750 desaparecidos, dos quais muitos são crianças.
 
Como bem disse o Secretário-Geral da ONU, Gaza está se tornando um cemitério de crianças.
 
Além disso, ao menos 1,6 milhão de pessoas – cerca de 70 % da população de Gaza – tiveram de abandonar suas casas, sem perspectiva de retorno.
 
Também nos causa perplexidade que mais de uma centena de funcionários da ONU já perderam suas vidas.
 
Ao presidir o Conselho de Segurança das Nações Unidas no mês de outubro, o Brasil não poupou esforços em favor do tratamento da emergência humanitária, da contenção da atual escalada e da retomada de uma solução duradoura para o conflito.
 
Propusemos uma Resolução que contou com o apoio da maioria dos membros, mas que infelizmente foi objeto de veto de um dos membros permanentes.
 
A paralisia do Conselho é mais uma demonstração da urgência da sua reforma.
 
Só em 15 de novembro último, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança finalmente aprovou uma Resolução que foca em um dos objetivos mais essenciais de toda ação humanitária: a proteção de crianças.
 
Neste momento, o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada pela Resolução seja implementada imediatamente.
 
Novamente, a credibilidade das Nações Unidas está em jogo.
 
Caros colegas,
 
Dois outros temas devem merecer nossa atenção.
 
O primeiro é que devemos atuar para evitar que a guerra se alastre para os países vizinhos.
 
É valiosa e imprescindível a contribuição do BRICS, em sua nova configuração, junto a todos os atores em favor da autocontenção e da des-escalada.
 
O Brasil não acredita que a paz seja criada apenas pela força das armas.
 
Temos longa experiência nacional que reforça nossa fé na paz criada por uma justa negociação diplomática.
 
Em segundo lugar, não podemos esquecer que a guerra atual também decorre de décadas de frustração e injustiça, representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino.
 
É fundamental acompanhar com atenção a situação na Cisjordânia, onde os assentamentos ilegais israelenses continuam a ameaçar a viabilidade de um Estado palestino.
 
O reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível.
 
Precisamos retomar com a maior brevidade possível o processo de paz entre Israel e Palestina.
 
A Iniciativa Árabe para a Paz, apresentada pela Arábia Saudita e adotada pela Liga dos Estados Árabes em 2002, nos parece um excelente ponto de partida.
 
Estou convencido do potencial deste grupo para mobilizar as forças políticas e diplomáticas em favor da resolução pacífica de controvérsias.
 
O Brasil seguirá pronto a apoiar todas as iniciativas que levem a uma solução política para esse conflito.
 
Gostaria de terminar a minha fala com um agradecimento especial ao presidente Al-Sisi e outros líderes pelo apoio à repatriação de 32 brasileiros e familiares de brasileiros que nos solicitaram ajuda para sair da Faixa de Gaza.
 
Muito obrigado”.
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