04/04/2022 às 21h44min - Atualizada em 04/04/2022 às 21h44min

Tarcísio diz que São Paulo fez pacto com crime organizado e irrita polícias

Questionado, Tarcísio não apresentou detalhes do suposto acordo nem comentou se teria provas e quais seriam elas.

Redação
As primeiras declarações sobre segurança pública do pré-candidato pelo Republicanos ao Governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, irritaram integrantes da cúpula das polícias Civil e Militar e membros da Promotoria e geraram desgaste ao ex-ministro da Infraestrutura em um reduto tradicionalmente bolsonarista.
 
Em entrevista ao canal do Youtube Money Reports, na última sexta-feira (1°), Tarcísio disse, entre outros temas, que a segurança pública paulista havia ruído e que um dos motivos para isso seria um suposto pacto com o crime organizado.
 
“São Paulo tem uma coisa interessante que o paulista não percebe: a associação com o crime organizado. São Paulo fez um pacto com o crime organizado, de não combatê-lo. E por que se optou por não combater o crime organizado? Porque combater o crime organizado dá efeito colateral”, disse o pré-candidato.
 
Esses efeitos colaterais, segundo ele, seriam a reação dos criminosos com a morte de policiais, queima de ônibus, assalto a bancos e aumento da insegurança.
 
“O problema é que quando você não combate, o crime cresce, e ele se infiltra no poder. E aí ele acaba se tornando força política”, disse.
 
Tarcísio se tornou alvo de dois pedidos de investigação por parte de parlamentares por causa das declarações. Um dos autores é o deputado estadual Delegado Olim, filiado ao PP partido que, na esfera federal, apoia a reeleição de Jair Bolsonaro (PL), mas que em São Paulo pode se juntar a Rodrigo Garcia (PSDB).
 
O deputado federal Alexandre Frota (PSDB) é o outro parlamentar que apresentou ao Ministério Público (MP) representação contra Tarcísio.
 
“A gente precisa entender se essa é mais uma falácia dele, mais uma fake news, porque ele precisa provar o que ele falou”, afirmou o parlamentar à reportagem.
 
Questionado, Tarcísio não apresentou detalhes do suposto acordo nem comentou se teria provas e quais seriam elas.
 
As palavras do pré-candidato do Republicanos irritaram integrantes das cúpulas das polícias paulistas.
 
Na PM, as críticas foram chamadas internamente de “no mínimo infelizes” e houve menções ao fato de Tarcísio ser carioca, e não paulista. O incômodo na Polícia Civil levou integrantes a citar as ações para indiciar e bloquear os bens de toda a família de Marco Camacho, conhecido como Marcola e considerado principal chefe da facção criminosa PCC.
 
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública paulista, ligada à gestão Rodrigo Garcia, decidiu rebater publicamente as afirmações do candidato bolsonarista.
 
“As ilações do ex-ministro, além de descabidas e irresponsáveis, revelam o absoluto desconhecimento do tema segurança pública, em especial no que se refere ao estado de São Paulo. Só nos últimos dois anos, mais de R$ 1,2 bilhão em ativos ligados às facções foram recuperados pelas forças de segurança estaduais”, diz trecho da nota, que elenca uma série de ações.
 
Membros do Ministério Público citaram que Lincoln Gakiya, um dos promotores de São Paulo responsáveis pelo combate ao crime organizado, teve sua morte encomendada por integrantes do PCC após apresentar pedido de transferência de líderes do grupo para presídios federais.
 
Isso acabou ocorrendo em fevereiro de 2021, em uma das primeiras ações do governo João Doria (PSDB). Marcola e outros 21 criminosos ligados à facção foram transferidos ao sistema federal.
 
As críticas feitas pelo pré-candidato do Republicanos se assemelham às feitas antes da transferência de Marcola. Na época, estudiosos do sistema prisional paulista apontavam que a tranquilidade nas prisões poderia ser fruto de um suposto acordo tácito entre Marco Camacho e autoridades paulistas. A tese, porém, acabou fragilizada depois da transferência.
 
A mudança de Marcola de unidade ocorreu após Doria assumir. A gestão anterior, de Márcio França (PSB), temia que a transferência pudesse gerar problemas no final do governo. Em novembro de 2018, ele disse ser necessário ter “cautela” para transferir os presos em razão de possibilidade de “reações”.
 
“Nós sabemos que existem pessoas criminosas que também têm a tentativa de produzir reações, confusões. Então, temos que tomar cautela, não é uma coisa simples”, afirmou.
 
Procurado, o Ministério Público afirmou que recebeu as representações do deputado federal Alexandre Frota e do deputado estadual Delegado Olim e que “ambas estão sob análise”.
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