14/10/2021 às 14h43min - Atualizada em 14/10/2021 às 14h49min

Pesquisa da Nova Escola revela insegurança de educadores na volta às aulas presenciais

Levantamento contou com mais de 4 mil respondentes, a maioria é professor (78,5%) de escolas públicas (80,8%).

  • A pesquisa revelou que 79,5% dos educadores voltaram às aulas presenciais, ainda que de forma híbrida; destes, 40,4% se dizem inseguros com esse retorno;
  • Este número é maior quando consideramos professores da rede pública: o percentual que se diz muito inseguro é quase o dobro (18,2%) em relação à rede privada (9,9%);
  • A média de segurança, numa escala de 0 a 6 (sendo 0 muito inseguro e 6 muito seguro) foi 2,8;
  • Por outro lado, quase metade dos profissionais da Educação Básica (47,8%) avaliam que a saúde mental hoje está “boa” ou “excelente”; em 2020, esse número era somente pouco mais do que um quarto (26%);
  • Ansiedade e depressão seguem sendo os problemas emocionais mais relatados entre os profissionais de Educação.

A Nova Escola, negócio social voltado a apoiar e oferecer recursos para educadores e melhorar a Educação pública no Brasil, realizou uma pesquisa online com sua base de usuários que revela a saúde emocional dos profissionais da Educação básica e sua percepção em relação à volta às aulas presenciais.

A pesquisa foi respondida entre os dias 31 de agosto e 10 de setembro nos canais da Nova Escola, por 4.004 profissionais da Educação, entre eles professores, diretores escolares e coordenadores pedagógicos de escolas municipais, estaduais e particulares. A maioria dos respondentes é professor (78,5%) e trabalha no ensino público (80,8%). O questionário foi disponibilizado para todos os estados da Federação e não obteve resposta apenas de educadores de Rondônia.

“O levantamento dá continuidade às ações que a Nova Escola está conduzindo desde o início da pandemia para apoiar os professores e redes de ensino no enfrentamento dos desafios impostos pela pandemia, como saúde mental, isolamento social, ensino em contextos híbridos (combinação de aulas presenciais e remotas) e o retorno presencial. Esta é a segunda pesquisa relacionada ao assunto realizada pela organização e diversos materiais já foram disponibilizados aos educadores para apoiá-los com esses desafios”, diz Ana Ligia Scachetti, Gerente Pedagógica da Nova Escola. A primeira pesquisa aconteceu em agosto de 2020, com 1877 respondentes também da base de usuários da plataforma.

A pesquisa se propôs a mapear como está a saúde emocional dos profissionais, qual o impacto da pandemia nesse quesito, quais os incômodos mais comuns e há quanto tempo eles lidam com esses problemas, entender quantos profissionais contam com ajuda especializada para cuidar da saúde emocional, além de fazer um comparativo com sua saúde emocional há um ano.

Insegurança na volta às aulas presenciais

A pesquisa questionou os educadores se a rede em que atuam já havia retornado ao trabalho presencial e 79,5% disseram que sim, ainda que de forma híbrida. Entretanto os profissionais, de forma geral, ainda se sentem inseguros com o retorno às aulas presenciais.

Quando questionados sobre como classificam o seu sentimento em relação ao nível de segurança no retorno, em uma escala entre 0 e 6 (onde 0 é ‘muito inseguro’ e 6 é ‘muito seguro’), a média foi de 2,8. 40,4% se sentem “inseguros”, 40,6% “nem inseguros e nem seguros”, e 19,1% se consideram “seguros”.

Como classifica o seu sentimento ao nível de segurança no retorno? Em uma escala entre 0 e 6 (onde 0 é ‘muito inseguro’ e 6 é ‘muito seguro’)


0, 1 e 2 sendo inseguros, 3 e 4 nem inseguros e nem seguros, e 5 e 6 seguros.

A insegurança fica mais evidente quando comparamos professores da rede pública e da rede privada. O percentual de professores da rede pública que se sentem "muito inseguros" (0 na escala) é quase o dobro do percentual verificado na rede privada (18,2% x 9,9%). Os níveis de segurança com o retorno presencial de professores da rede privada também são mais elevados: 26% se dizem seguros, 69,4% nem seguros nem inseguros e 30,57% inseguros. Já na rede pública 42,68% se dizem inseguros, 39,9% nem seguros nem inseguros e apenas 17,4% seguros.

Como classifica o seu sentimento ao nível de segurança no retorno? Em uma escala entre 0 e 6 (onde 0 é ‘muito inseguro’ e 6 é ‘muito seguro’)


“Dentro desta questão, as respostas abertas mostram que há uma preocupação com os alunos também. As crianças e a maioria dos jovens ainda não estão vacinados. Em alguns locais, os professores convivem com interrupções por conta de casos de Covid-19 na escola, pessoas que se recusam a se vacinar ou que não respeitam os protocolos de segurança, falta de material de proteção e de material e pessoal para limpeza e quantidade alta de casos de covid no município”, explica Ana Ligia.

“Alguns professores alegam, também, que é difícil manter distanciamento com crianças pequenas, que têm medo das novas variantes e que é comum as crianças terem sintomas gripais nessa época do ano e isso pode fazer com que elas vão para a escola com covid. Ainda assim, muitos que já voltaram têm conseguido encontrar boas maneiras de trabalhar com segurança e valorizam a oportunidade de poder retomar o trabalho de maneira mais consistente com os estudantes.”

Questionados sobre a maior dificuldade com os estudantes no retorno presencial, para os educadores, a diferença entre os níveis de conhecimento dos alunos é o maior desafio enfrentado nesta retomada, com 62,8% da escolha. Os participantes podiam escolher mais de um desafio e, em seguida, votaram por ansiedade (55%), ensino híbrido (39,7%), busca ativa dos alunos que se distanciaram (35,8%), e resistência por parte dos alunos com as mudanças (32,8%) aparecem na sequência.

Na sua percepção, quais são os maiores desafios enfrentados pelos estudantes na retomada presencial?


Melhora na saúde emocional em relação à 2020

A saúde emocional dos educadores que acompanham a Nova Escola melhorou em 2021 na comparação com 2020. A pesquisa revelou que quase metade dos profissionais da Educação Básica (47,8%) avaliam que a saúde mental hoje está “boa” ou “excelente”. Em 2020, eram somente pouco mais do que um quarto (26%).

Além disso, houve uma redução bastante importante no total de respondentes que classificaram sua saúde mental como “ruim” ou “péssima”. Neste ano, o total foi de 13,7% contra 30,4% em 2020. Não houve variação expressiva no percentual daqueles que consideram sua saúde mental “regular”: 38,5% em 2021 e 41,3% em 2020.

Como você avalia sua saúde mental neste momento?


“Essa informação de melhora na saúde emocional dos professores pode ter ligação com o fato de que nos acostumamos com a situação. Ano passado, era tudo muito novo e as restrições, no geral, eram maiores. Quem tem filho, que é o caso de muitas professoras (as mulheres são a maioria das respondentes - 86,8% na pesquisa de 2021), por exemplo, estava com as crianças em casa e sem qualquer apoio externo, tentando aprender a trabalhar remotamente, cuidando da família e da casa sozinha”, analisa Ana Lígia.

“Tanto tempo em isolamento ou distanciamento criou novos hábitos. Fomos flexibilizando com segurança, aprendendo a usar máscara e a conviver pelo menos dentro da família estendida ou de grupos de amigos que se apoiam. Naquele início, os professores tiveram que repensar toda a sua prática e até se comunicar com os alunos foi um desafio muito grande na maioria dos casos. Agora, há novas rotinas estabelecidas e novos hábitos e aprendizados incorporados”.

Queda na ansiedade e depressão

Os problemas mais relatados entre os profissionais de Educação em 2020 - ansiedade, estresse e depressão - melhoraram neste ano. Houve queda importante no total de profissionais que se dizem ansiosos e depressivos.

Os incômodos mais relatados pelos profissionais, em 2021, são os mesmos: ansiedade, estresse continuado, depressão, Porém com exceção de estresse continuado, os outros percentuais são menores nesta edição, com destaque, principalmente, para a depressão, que totalizava 20% em 2020 e diminuiu para 13% este ano. Ansiedade, por sua vez, caiu de 67% para 57,7% em 2021.

Ao mesmo tempo, aumentou de 23% para 31% o total de educadores que disseram não sofrer nenhuma das condições perguntadas na pesquisa.

Você sofre de alguma das condições listadas abaixo?


Pandemia tem peso menor na saúde mental

Os profissionais ouvidos pela pesquisa atribuíram um peso menor ao impacto da pandemia de Covid-19 em sua saúde mental. Usando o mesmo critério adotado na pesquisa anterior, em 2021, 30,6% consideraram que a pandemia piorou sua saúde mental, 46,7% que não houve mudança, enquanto 22,8% que melhorou. Em uma escala entre 0 e 6 (onde 0 é ‘piorou muito’ e 6 é ‘melhorou muito’), a pontuação média foi 3,2.

Em 2020, os números eram bastante diferentes: 68% afirmou que a pandemia piorou a saúde mental, 25,6% que não houve mudança e 18% que melhorou. Naquela ocasião, a pontuação média foi de 2,4.

Em uma escala entre 0 e 6 (onde 0 é ‘piorou muito’ e 6 é ‘melhorou muito’), qual foi o impacto da pandemia de covid-19 na sua saúde mental?


Ainda sem ajuda profissional

Ainda que esta pesquisa revele dados mais positivos em relação à anterior, há um alerta importante: a maioria dos educadores segue sem suporte profissional para cuidar da saúde mental.

O percentual de respondentes que disse não contar com suporte para sua saúde mental manteve praticamente o mesmo de 2020: 73% neste ano contra 72% no ano anterior.

Dos educadores que possuem ajuda profissional para cuidar da sua saúde mental, aumentou a porcentagem que diz utilizar o SUS para se tratar: 15,6%. Em 2020, eram 8%. Ao mesmo tempo, caiu o total que disse fazer tratamento de forma particular: 41,4%. Em 2020, eram 57%.

As razões mais citadas por quem não faz tratamento psicológico seguem também as mesmas: falta de condições financeiras (31,7%), não ter tempo disponível (18%), não acreditar que é importante para si (12,7%). Outros motivos foram citados por 36,7%.


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