08/03/2021 às 11h24min - Atualizada em 08/03/2021 às 11h24min

Brasil fez “aposta suicida” de que nova onda não aconteceria, diz epidemologista de Harvard

O epidemologista Antônio Lima Silva Neto condenou o negacionismo do governo Bolsonaro, que, segundo ele, levou à adoção da estratégia da imunidade de rebanho. Ele ainda condenou a lentidão na compra de vacinas e previu o aumento na mortalidade da Covid-19.

Pós-doutor na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e professor e pesquisador da Universidade de Fortaleza (Unifor), o epidemiologista Antônio Lima Silva Neto condenou o gerenciamento do governo Bolsonaro da pandemia da Covid-19, afirmando que, ao invés de seguir a ciência, foi preferido um caminho negacionista e que aposta na imunidade de rebanho, mesmo que isso custe milhares de vidas.

Em entrevista ao Portal UOL, o médico afirma que, enquanto devia se preparar para a aquisição de vacinas para conter a segunda onda, o governo apostou que isso jamais aconteceria.

“O que a gente sofreu foi uma primeira onda com lapsos temporais: começou primeiro no Norte, no Amazonas, Pará; depois veio Nordeste, com Ceará e Pernambuco; além de São Paulo e Rio. A onda foi maior em alguns lugares e teve um lapso temporal, aconteceu em menor intensidade no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. E depois a gente teve uma relativa queda de casos, e você tinha que se preparar para a aquisição de vacinas. Mas a gente fez uma aposta suicida de que isso não aconteceria e virou um grande celeiro de variantes, de produção de casos em escala enorme. Essa segunda onda começou a se desenhar em outubro e novembro, praticamente em todos os estados brasileiros. Não é nada não previsto”, diz.

Além da falta de vacinas, o negacionismo do governo federal levou à adoção da estratégia de rebanho: “O principal que considero foi o governo federal - que, em todos os países, é o responsável por coordenar a resposta à pandemia - adotar o negacionismo. Isso não estava previsto no início: você começou ali com [o ministro da Saúde, Luiz] Mandetta e uma boa equipe, que estavam antenados com as agências multilaterais, seguindo as evidências. Mas isso foi quebrado. Nós entramos no discurso que ecoava do [então presidente americano Donald] Trump naquele momento, que era o discurso do tratar, não de prevenir; de deixar o vírus mais solto para se adquirir uma imunidade de rebanho à força, mesmo que ao custo de milhares de vidas”.

Silva Neto ainda analisou a conjuntura da pandemia no Brasil com pessimismo, prevendo que a mortalidade do coronavírus ainda vai se estender.

“Eu vejo uma dificuldade para calcular isso. Quando o vírus circula em meio a uma vacinação muito lenta, você facilita o surgimento de eventuais novas variantes. E existe uma questão: você vê UTIs [unidades de terapia intensiva] lotadas no Brasil inteiro, então nós vamos ter um período de alta mortalidade. Se você calcula que dois terços dos pacientes internados em UTI - às vezes mais, às vezes menos - podem morrer, você sabe que essa alta mortalidade vai se estender. Não é uma previsão, isso é óbvio porque as pessoas estão internadas”, afirma o epidemiologista.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp