05/04/2020 às 14h30min - Atualizada em 05/04/2020 às 14h30min

Jejum convocado por Bolsonaro e pastores contraria o que Cristo disse no famoso Sermão da Montanha

Se quiser fazer jejum, que faça, mas não como um espetáculo público que faz parte de um movimento de disputa de poder.

Não há nada mais anticristão do que o jejum que Bolsonaro e pastores bolsonaristas convocaram para hoje.

Isso mesmo.

Ignorante, Bolsonaro desconhece a orientação que Cristo dá a seus discípulos sobre jejum, mas os pastores certamente já leram os versos 16, 17 e 18 do capítulo 6 do livro de Mateus, que faz parte do Sermão da Montanha:

Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.

Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Bolsonaro anunciou o jejum como medida para combater o coronavírus, depois que se encontrou com um grupo de pastores na frente do Palácio do Alvorada.

O grupo orou por ele e pediu que convocasse a nação para um jejum, pois, como chefe do Executivo, tem “autoridade”, segundo eles. Bolsonaro até gravou um recado para outros grupos evangélicos e “proclamou” este domingo como um dia nacional de jejum no Brasil.

“Sou católico e minha esposa, evangélica. É um pedido dessas pessoas. Estou pedindo um dia de jejum para quem tem fé. Então, a gente vai, brevemente, com os pastores, padres e religiosos anunciar. Pedir um dia de jejum para todo o povo brasileiro, em nome, obviamente, de que o Brasil fique livre desse mal o mais rápido possível”, disse ele.

Para quem crê, jejum e oração têm validade, é claro.

Mas, da forma como foi colocado, é uma ação política para se opor aos esforços da equipe do Ministério da Saúde, que tem se comprometido com critérios técnicos e científicos para enfrentar a pandemia.

É como deve ser em qualquer país civilizado, e esse padrão de comportamento não se choca com a fé.

O ministro Luiz Henrique Mandetta, por exemplo, é católico fervoroso, de fazer novena. E se bateu de frente com Bolsonaro por defender essa posição. Bolsonaro quer o fim do isolamento social, para que o comércio volte a funcionar.

Seguir rigorosamente orientação técnica no combate ao coronavírus é o que todos deveriam fazer, o cristão especialmente.

Usar a ciência como aliada numa ação para evitar - ou atenuar - o sofrimento do outro é a melhor forma de mostrar que não é cristão apenas da boca para fora.

Se quiser fazer jejum, que faça, mas não como um espetáculo público que faz parte de um movimento de disputa de poder.

Joaquim de Carvalho é jornalista, com passagem pela Revista Veja, Jornal Nacional, entre outros.

E-mail: [email protected]


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