31/07/2023 às 10h50min - Atualizada em 31/07/2023 às 10h50min

Operação da PM para prender suspeito de assassinar policial da ROTA deixa 10 mortos em Guarujá – SP, diz Ouvidor

Moradores relataram que policiais torturaram e mataram um homem e prometeram matar ao menos 60 pessoas em comunidades da cidade.

Redação
Foto: Polícia Militar
A Ouvidoria das Polícias identificou dez mortes decorrentes de intervenção policial em Guarujá – SP, desde sexta-feira (28), quando teve início uma megaoperação das forças de segurança na Baixada Santista. A ação é uma resposta à morte de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), na mesma cidade, na última quinta-feira (27), em um crime que gerou comoção entre policiais.
 
O autor do disparo que matou o soldado foi capturado na noite deste domingo (30), na zona sul da cidade de São Paulo, informou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), pelo Twitter.
 
“Três envolvidos já estão presos”, escreveu o governador. “A justiça será feita. Nenhum ataque aos nossos policiais ficará impune”, concluiu.
 
O número de mortos pode chegar a 12, segundo o ouvidor, Cláudio Aparecido da Silva. Os nomes dos mortos não foram divulgados oficialmente. Moradores de Guarujá também relataram que policiais militares torturaram e mataram ao menos um homem, e prometeram assassinar 60 pessoas em comunidades da cidade.
 
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que até agora não constatou abusos policiais e que todas as denúncias serão investigadas.
 
A Operação Escudo, que vai durar um mês, envolve agentes de todos os 15 batalhões de operação especiais do estado. São cerca de 3.000 PMs, além de pelotões do Choque e do efetivo local.
 
Na noite de sexta-feira, vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, foi morto com nove tiros. Moradores da favela da Vila Baiana, próximo à praia da Enseada, dizem ter ouvido os gritos da sessão de tortura.
 
A família encontrou queimaduras de cigarro, além de um ferimento na cabeça e um corte no braço. Segundo relatos de dois familiares da vítima, e as informações foram confirmadas pela ouvidoria.
 
Por volta das 21h, Nunes disse ao irmão que ia sair de casa para comprar cigarro. Por volta das 23h, vizinhos ligaram para a família para avisar que haviam ouvido gritos, suplicando para não morrer, e tiros. Minutos depois, teriam visto o corpo de Nunes ser jogado no porta-malas de uma viatura da PM.
 
O ambulante informou à família que sairia de casa pois estava ciente de um aviso da polícia à comunidade de que pessoas com passagem na polícia ou com tatuagem seriam mortos. Esse aviso foi confirmado por dois moradores ouvidos pela reportagem.
 
Nunes já havia sido detido por roubo, mas segundo três pessoas ouvidas pela Folha tinha abandonado o crime e se tornado vendedor ambulante. Ele estava há uma semana morando sozinho, após ficar por três meses na casa de um casal que aceitou acolhê-lo na Vila Baiana.
 
No sábado, após ele ser morto, a família encontrou um chinelo de Nunes dentro de um barraco desocupado na mesma viela onde ele morava. A porta estava trancada e o chão tinha marcas de sangue. Moradores e familiares dizem acreditar que foi ali que ele teria sofrido as queimaduras de cigarro e gritado, já ferido, para que não fosse executado.
 
O corpo foi entregue ao Instituto Médico Legal (IML) sem identificação. A família o encontrou após ser avisada da morte, e ele foi reconhecido pela impressão digital dos dedos. Os parentes não foram autorizados a ver o corpo, e só viram as marcas que sugerem tortura ao recebê-lo para o velório.
 
A família diz, ainda, que a última visualização em seu número de celular ocorreu às 0h16 de sábado. O corpo sem vida teria sido visto no camburão da polícia, porém, por volta das 22h. Uma parente de Nunes diz que foi informada na delegacia que não havia sido apreendido nenhum celular nem a chave do carro, que a família também deu falta.
 
O boletim de ocorrência do caso diz que dois policiais da ROTA estavam trabalhando em uma operação na Vila Baiana quando viram um homem, a pé, que mudou de direção ao avistá-los. Ele teria levado a mão à cintura, fazendo menção de sacar uma arma, e entrado em um barraco da favela, disseram os policiais.
 
Os dois PMs teriam ido em direção à casa e, ao chegar próximo ao portão, o homem teria atirado em direção a eles. Em seguida, diz o boletim, o sargento André Felipe Quintino Danielli teria disparado seis tiros contra o homem, e o soldado Rodrigo França Lourenço três tiros. Os policiais alegam que apreenderam uma pistola Glock e uma mochila com 526 porções de maconha com ele.
 
O documento não identifica Nunes, mas o boletim foi entregue à família na delegacia.
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