27/07/2023 às 12h23min - Atualizada em 27/07/2023 às 12h23min

Pessoas com obesidade e alterações no IMC ao longo da vida têm mais risco de ter câncer

Estudo acompanhou mais de 135 mil pessoas durante 21 anos; câncer colorretal foi o mais comum entre os que tiveram alterações significativas do IMC.

Redação
Agência Einstein
Não é de hoje que o sobrepeso e a obesidade têm sido relacionados ao aumento do risco de desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como o de mama, colorretal, esôfago, próstata, fígado, entre outros. No entanto, um novo estudo acompanhou mais de 135 mil pacientes ao longo de 21 anos e foi além: concluiu que pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) alto ou que aumentem o seu IMC ao longo da vida (especialmente na idade adulta) têm mais risco de desenvolver algum tipo de câncer, especialmente o gastrointestinal.
 
A pesquisa utilizou dados do Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian (PLCO) Cancer Screening Trial, um grande estudo randomizado controlado projetado e patrocinado pelo Instituto Nacional do Câncer (National Cancer Institute (NCI), em inglês), dos Estados Unidos. O IMC é um índice internacional usado há décadas como parâmetro científico para o cálculo de sobrepeso e obesidade, por meio de uma fórmula que se baseia no peso e na altura do paciente. Segundo a regra, uma pessoa precisa ter o IMC entre 18,5 a 24,9 para ter o peso considerado normal; entre 25 e 29,9 para ser considerada com sobrepeso; e acima de 30, já é considerada um paciente com obesidade. Os resultados do estudo foram publicados no Jama Network.
 
Durante os 21 anos de acompanhamento, 2.803 pessoas foram diagnosticadas com câncer colorretal e 2.285 desenvolveram outras neoplasias gastrointestinais (como câncer de esôfago, fígado e pâncreas, por exemplo). Ainda segundo o estudo, a cada acréscimo de uma unidade no IMC ao longo da vida, houve um aumento de 2% a 4% no risco de câncer colorretal e outras neoplasias gastrointestinais.
 
De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para o biênio 2023-2025, quase 46 mil novos casos de câncer colorretal devem ser diagnosticados por ano no Brasil, representando um aumento de mais de 10% em relação à estimativa de 2020-2022. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre os anos de 1998 e 2015, houve um aumento de 63% no número de casos de câncer colorretal.
 
Má alimentação
Segundo a oncologista Ana Paula Cardoso, do Hospital Israelita Albert Einstein, os mecanismos relacionados à obesidade e ao risco aumentado de câncer ainda não são completamente entendidos. Ela afirma que existem algumas teorias para explicar a relação entre obesidade e câncer, entre elas a inflamação crônica e persistente do organismo da pessoa com obesidade, além de alterações na flora intestinal (desbiose), alterações metabólicas e imunológicas comuns relacionadas à obesidade, como uma alimentação ruim.
 
“A população tem consumido muito mais alimentos industrializados, ultraprocessados, com alto teor de açúcar e calórico. São produtos mais acessíveis, mais baratos, mas essa má alimentação tem como consequência a obesidade. Estudos anteriores já mostraram o aumento do risco de morte por câncer também na população com obesidade, comparado com a população com IMC normal e câncer”, disse.
 
De acordo com a oncologista, uma das informações mais importantes deste estudo é mostrar que a manutenção da obesidade ao longo da vida aumenta ainda mais o risco.   “A obesidade é um dos principais fatores de risco para o câncer colorretal. O que esse estudo traz de novo é mostrar que o risco é proporcional ao tempo de exposição. Por exemplo: quando você olha para a população com sobrepeso, existe um aumento de risco, mas ele não é tão grande como quando você olha para as pessoas com obesidade. E da mesma forma quando você muda a faixa do IMC [de sobrepeso para obesidade, de obesidade para obesidade mórbida]. A manutenção da obesidade, assim como a mudança de peso e a faixa do IMC, aumenta o risco”, disse.
 
O estudo também mostrou que o uso regular de ácido acetilsalicílico (AAS), a aspirina, não modificou a associação entre o IMC e o câncer gastrointestinal. Assim, o resultado sugere que a obesidade pode alterar o efeito que o fármaco exerce de prevenção contra o câncer. De acordo com Cardoso, apesar de controverso, as evidências científicas mostram que uma baixa dose poderia ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento de câncer colorretal em algumas populações específicas.
 
“A aspirina é um dos anti-inflamatórios mais antigos, mas também é um anticoagulante muito usado na cardiologia como prevenção de diversas doenças cardiovasculares. O que esse estudo sugere é que, muito provavelmente, a obesidade pode alterar o efeito preventivo conhecido da aspirina em relação ao risco de desenvolvimento de câncer porque ela perde a sua habilidade anti-inflamatória de proteção. Nesses casos, a dose indicada provavelmente deveria ser diferente”, explicou.
 
Problema mundial
Segundo a médica, a obesidade é um problema mundial de saúde pública que precisa de atenção urgente, especialmente diante de uma população mundial com tendência ao aumento de peso. Atualmente, no Brasil, cerca de 30% das crianças são consideradas com sobrepeso ou obesidade, e essas crianças apresentam maior risco de desenvolver obesidade na vida adulta.
 
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 60% dos brasileiros adultos estão com sobrepeso e 26% estão com obesidade (mais do que o dobro em relação a 2003). “A nossa população segue a tendência mundial. E temos uma perspectiva assustadora de termos 41% dos adultos com obesidade em 2035”, alertou a médica.
 
Na avaliação da especialista, seria de grande valor investir em políticas públicas voltadas para a prevenção da obesidade, e não apenas para o tratamento do câncer.
 
“A obesidade é um fator de risco conhecido para muitas outras doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, além do câncer. Isso tem um impacto importante na melhoria da saúde da população e, consequentemente, nos custos com saúde. Lembrando que o câncer é uma doença de alta complexidade e não temos centros oncológicos suficientes e recursos financeiros para tratar toda essa população nos próximos anos”, avalia a médica.
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