22/01/2022 às 20h36min - Atualizada em 22/01/2022 às 20h36min

Ministério da Saúde diz que hidroxicloroquina é segura, mas vacinas não; nota técnica contraria OMS e cientistas

Todas as vacinas em aplicação no Brasil obtiveram resultados em pesquisas científicas que comprovaram a segurança e eficácia contra a Covid-19.

Redação
Nota técnica publicada na sexta-feira (21) pelo Ministério da Saúde contraria a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a comunidade científica e afirma que vacinas não têm demonstração de segurança. Na verdade, as vacinas contra a Covid são internacionalmente reconhecidas como método mais seguro de prevenção contra a doença.
 
O mesmo documento aponta que a hidroxicloroquina demonstrou segurança como uma tecnologia de saúde para a Covid-19 – o medicamento chegou a ser discutido pelos maiores órgãos de saúde do mundo e, desde março de 2021, a OMS não recomenda oficialmente seu uso para o tratamento ou prevenção do coronavírus.

 
O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Helio Angotti Neto, assina o relatório, utilizado como base para rejeitar as diretrizes da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec) de não usar medicamentos do “kit Covid” para tratamento em pacientes do SUS.
 
Desde o início dos experimentos das vacinas da Covid-19, as farmacêuticas e cientistas fizeram estudos de todos os tipos – incluindo pesquisas de padrão ouro – para confirmar a segurança e eficácia contra a Covid-19. Todas as vacinas em aplicação no Brasil obtiveram resultados que comprovaram a segurança para a aplicação e uma boa resposta de anticorpos contra o coronavírus.
 
No caso da hidroxicloroquina, a discussão começou em 2020 e, apesar da defesa inicial de alguns cientistas, tanto a OMS, quanto pesquisadores da área, passaram a não recomendar o uso do medicamento por falta de evidências científicas e, mais do que isso, a chance de causar algum efeito adverso grave em pacientes com a Covid-19.
 
“Temos já muitos estudos bem conduzidos, de qualidade, mostrando que a hidroxicloroquina não tem eficácia contra a Covid-19. Além dos estudos em populações que mostram a efetividade das vacinas e sua segurança. E para somar a isto, temos os números que mostram a redução do número de óbitos com o avanço da cobertura vacinal. Então, é uma mentira contada pelo próprio ministério, que ignora a ciência”, afirma Letícia Sarturi, mestre em imunologia pela Universidade de São Paulo e doutora em biociências e fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá.
 
As diretrizes da Conitec, aprovadas em maio e dezembro do ano passado, eram de não usar remédios como a cloroquina, a azitromicina, a ivermectina e outros medicamentos sem eficácia para tratar a doença – tanto em ambulatórios (casos leves) como em hospitais, quando o paciente está internado.
 
Ambas foram rejeitadas pelo ministério. Angotti Neto pontua, entre os motivos, “incerteza e incipiência do cenário científico diante de uma doença em grande parte desconhecida”.
 
Angotti Neto afirmou que a elaboração das diretrizes “passou por processos de grande tumulto”, o que “pode ter pressionado membros da Conitec”.
 
Neto também apontou que a decisão foi tomada por 7 votos a favor e seis contra, apontando que seria algo atípico na história do conselho. Entretanto, os votos contrários foram dados por cinco secretarias do governo e o Conselho Federal de Medicina. Segundo reportagem da Rádio CBN, Angotti Neto pediu a a demissão de Vânia Canuto, uma das auxiliares que votou a favor do relatório da Conitec que contraindica o uso do kit Covid.
 
“Sem dúvida nenhuma é um processo que passou por processos de grande tumulto, vazamentos de informações. Isso pode ter pressionado membros da Conitec e essa pressão pode influenciar no processo decisório interno”, disse Angotti Neto.
 
“Não é isso que definiu a decisão, mas é um elemento de contexto, por exemplo, que é considerado nessas situações. Agora, outro elemento, alguns elementos na seleção de diretrizes prévias, a metodologia que foi utilizada...tudo isso foi questionado por membros da Conitec, que talvez um dos elementos inéditos e que chama muito a atenção é a falta de consenso. Até onde eu recordo, é a primeira vez na Conitec que temos uma votação de maioria simples de 7 a 6”, complementou.
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