09/09/2021 às 17h45min - Atualizada em 09/09/2021 às 17h45min

Atriz Railane Borges estreia como diretora e fala sobre os desafios de se produzir um filme do zero: ‘O esforço coletivo gera frutos inimagináveis’

‘Novembro’ será lançado em Niterói com a expectativa de chegar em breve nas plataformas de streaming.

Coragem e vontade de fazer acontecer. Esses foram elementos preciosos para que o filme “Novembro” pudesse sair do papel e ir parar nas telonas. O longa-metragem que conta a história de um homem que vive um conflito interno e as angústias da maioria dos seres humanos. Ambientado em Niterói, Rio de Janeiro, o filme que retrata as profundezas, os medos e inseguranças de uma sociedade, foi produzido do zero com a força do coletivo.

Railane Borges já é uma consagrada atriz, tendo feito parte do elenco de Malhação, Floribella, inúmeras séries e especiais. Ela, inclusive, esteve recentemente no Canal Viva, na reexibição do especial “Tal Filho, Tal Pai”, que tem Fábio Júnior e Fiuk no elenco. No meio do caos de um puerpério, junto ao medo de uma pandemia que ninguém sabia ao certo que fim levaria, e se teria fim, ela encontrou em seu marido Sandro Araújo a força para trabalhar a sua potência. “Estávamos vivendo um momento de maturidade. Aquele momento em que você realmente pensa que deve trabalhar nas suas potências ao invés de simplesmente disponibilizar sua força de trabalho, tantas vezes subaproveitada, no mercado profissional”, conta a diretora e roteirista.

“Eu precisava buscar a minha força após quase um ano maternando o Ravi sem nenhuma pausa, com total apego. E em uma noite de muita busca, de muita conversa, eu meu marido resolvemos apostar alto e investir no sonho de ter uma produtora audiovisual. Decidimos isso ao mesmo tempo em que já nos propusemos a fazer um longa-metragem”, se diverte Railane ao lembrar do momento em que Sandro fez a proposta. Logo na sequência, eles já começaram a pensar no roteiro, foi quando surgiu a ideia de adaptar o livro “Solidão e Destino” do próprio Sandro. “O livro é intimista, com poucos personagens, mas tem uma carga dramática grande”, explica.


Moradores de Niterói, no Rio de Janeiro, os dois buscaram a cidade como cenário do longa e contaram com amigos, alunos e até colegas de Sandro, da Polícia Federal, para que o longa pudesse acontecer. Eles, inclusive, tiveram a parceria do cineasta Matias Palma. “Com ele pude dividir todos os processos, desde o desenvolvimento da escaleta, ao roteiro, à preparação de atores, decupagem, produção de locações, até uma etapa bastante avançada do processo de produção”, relembra Railane que sente orgulho por toda a trajetória percorrida.

“Começamos a planejar um filme de guerrilha com duas pessoas, Matias e eu, usando nossas casas, amigos, filhos, pais e mães. Fizemos cinema pelas vias mais improváveis, sem saber exatamente a proporção daquilo! Colecionamos histórias e memórias cinematográficas, adicionando tanta experiência a todos que participaram do projeto que fez cada perrengue valer realmente a pena, olhando agora para trás, e vendo com orgulho o filme finalizado”, se emociona.

“O esforço coletivo gera frutos inimagináveis”

Railane e Sandro exaltam a todo momento a colaboração de todos que, em algum momento, estiveram presentes no processo de criação e, acredita, que o coletivo é a chave do sucesso. “Não se faz um filme sozinho, e não se faz um bom filme sem uma conjuntura de talentos. Ver o filme finalizado é como uma pequena pílula a uma sociedade alternativa em que o esforço coletivo gera frutos inimagináveis”, explana a roteirista sem esquecer os desafios enfrentados.

“Não houve sequer uma etapa de todo esse processo que não tenha sido um desafio. Esse filme é um troféu e um grito. Um grito pelo fôlego do cinema, pelos talentos que quase se afogaram no mar agitado das políticas de escassez cultural promovidas pelos últimos governos. Temos que nos unir e fazer brotar peças como "Novembro", filmes de jovens diretores sem lobby, sem sobrenome, de luta e de infância em sets e coração selvagem. É preciso muita ousadia de cada um dos envolvidos. A responsabilidade é enorme, assim como o montante de trabalho”.

A história e personagens

“Nosso filme abre uma janela para o cotidiano de um homem que coleciona estranhezas ao atravessar os anos sem amadurecer emocionalmente", diz Sandro Araújo que interpreta Júlio, personagem principal da trama: "O Júlio é um alter ego do Sandro que vivia em 2010, ano que escrevi o livro. Um homem solitário, apesar de cercado de gente. Infeliz com a carreira. Com uma relação difícil com as perdas do presente e do passado. O Sandro que fez o filme, já era outro. Em 2019 já havia colocado a cabeça para fora d'água e deixado as bagagens pelo caminho”.

Ao falar do protagonista, Sandro se pega revirando dores do passado. “Fazer o Júlio foi doloroso no sentido de ser remetido a dores lancinantes, que permearam minha vida por décadas. Mas foi um aprendizado da arte de interpretar. A Rai tirou o melhor que eu podia dar naquele momento”, se emociona o ator.

Além de Sandro como Júlio, o filme traz Giovanna Bombom, uma atriz pornô reconhecida. “Ao início do processo nós tínhamos decidido tentar ao máximo ter um filme com pessoas de verdade. E usar os recursos de que dispúnhamos, então nosso time era diverso. Muitas mulheres do pornô devem ter sim outras vias de trabalho, se assim lhes aprouver. Giovanna é talentosa, bela e sua história estudando cinema negro, cinema erótico negro, atuando e dirigindo peças, é uma verdadeira força da natureza”.

Força Feminina

“A mulher sai de um puerpério com a mesma força e vivacidade de uma borboleta que acabou de romper o casulo. E ela custa a decidir em que próximo projeto vai investir toda a sua energia. Isso somado a uma linda rede de apoio como a que eu tenho, fez com que eu gestasse uma força de produção tão potente que ao fim floriu”, narra Railane que afirma não ter sido nada simples, nem muito menos fácil florescer:

“Lidei com meus medos tratando as minhas questões de escassez e manejando as minhas águas internas. Lidei encarando os pensamentos que minavam minha força criativa. Todos os ciclos que se concluem precisam atravessar o salto no abismo. É preciso coragem para saltar rumo ao desconhecido. Mas é também a única forma de obter qualquer resultado. O medo é um péssimo conselheiro e foi dele que me livrei para dirigir Novembro”.

Carreira artística

Railane Borges é uma atriz conhecida e reconhecida. Foram diversas produções na TV, no teatro e no cinema, no Dia dos Pais, ela esteve no ar no Canal Viva, na reexibição do especial “Tal Filho, Tal Pai”, que tem Fábio Júnior e Fiuk no elenco.


“Minha carreira como atriz se iniciou aos 9 anos de idade. O currículo é extenso com ótimas participações e personagens. Dentre os papéis mais marcantes até hoje, Cavaleira do Futuro em Bambuluá, na rede Globo, algumas participações bastante marcantes em “A diarista”, “Malhação”, “Floribella”, na Record, a série “Meus dias de Rock”, no canal Brasil, a “Karen” protagonista de “Beijo me liga”, primeira série ficcional do Multishow, entre outros".

Apesar de tudo isso, Railane não pensa em voltar para a televisão. “Não é algo que chegue a me causar desconforto pensar em fazer. Mas acredito que seja um bom exemplo de como seria um subaproveitamento da minha capacidade criativa atual, como criadora de conteúdo, voltar a dar vida a personagens secundários às custas de muita competição, ansiedade, julgamento e pressão. Fora os assédios em tantos níveis. Enfim, o meio televisivo hoje no Brasil ainda é tóxico. Ainda muito caro para quem paga a conta de ser exatamente quem é. Portanto, não, obrigada”.

Primeira Vez

Se como atriz Railane tem um extenso currículo, como diretora, essa é a sua estreia. “Depois de toda uma infância em sets, depois de muitos papéis em muitas produções diferentes e a graduação em cinema, ainda depois de todo o trabalho em produtoras no Rio e co-produções internacionais, se você se empenhar em simplesmente ter disciplina para conduzir a produção e o processo criativo, então só resta chegar lá. E cheguei, uma recém diretora felicíssima com seu primeiro filme, abraçando seus defeitos, suas qualidades, suas falhas e momentos perfeitos. Assim como se abraça um filho, “Novembro” agora é patrimônio cultural, material e afetivo para nós que o fizemos. Para cada um de nós, tenho certeza”.

Lançamento e Festivais

E o mais importante, quando teremos o privilégio de assistir "Novembro" nos cinemas?

“A princípio vamos fazer algumas sessões para convidados em Novembro. Convidaremos profissionais de cinema, nossos amigos célebres, equipe, diretores parceiros, enfim, componentes do nosso networking, pessoas que admiramos em diversos níveis e outras que possam ajudar “Novembro” a galgar novas alturas, a experimentar novos voos”, informa Railane que inscreveu o filme em diversos festivais e o retorno tem sido excelente, tanto que o longa já foi selecionado para o Festival de Toronto (Canadá), de Jaraguá Do Sul e um no sul do Paquistão.

“Munidos do resultado desse circuito, aí então, conforme for, nosso filme estará à disposição do público em diversas plataformas de streaming”, finaliza Railane Borges.


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