Um resgate das memórias afetivas e ancestrais indígenas. Esse é o tema de duas exposições do artista Andrey Guaianá Zignnatto, que acontecem em São Paulo, em setembro.
Deste sábado (4/9) até 5 de dezembro, no Museu Afro Brasil, Zignnatto apresenta “Embyra”, ou “restos” na língua Tupi, apresenta um conjunto de sete obras, entre escultura, instalação, videoarte e objetos, criados a partir das memórias afetivas e ancestrais de sua família indígena Tupinaky’ia e Guarani. Já no dia 25, o artista realiza a CO YBY ORE RETAMA (Esta Terra é Nosso Lugar), no Museu da Cidade de São Paulo – Solar da Marquesa de Santos.
A exposição “Embyra”, na visão do artista, é um esforço para equalizar os elementos de dois universos muitos distintos: o urbano e o dos povos originários, de forma a reconstruir seu universo ancestral indígena.
“Embyra” estará em cartaz no Museu simultaneamente à mostra “Heranças de um Brasil Profundo”, que reúne mais de 500 objetos entre obras de arte e utensílios da cultura material indígena de raiz brasileira. A exposição encerra a trilogia do Museu Afro Brasil que visa iluminar as contribuições artísticas e culturais dos povos que deram origem ao Brasil, que teve início com Africa Africans, em 2015, e foi seguida por Portugal, Portugueses – Arte contemporânea, em 2016.
“A exposição Embyra dialoga com as temáticas abordadas pela instituição e amplia a discussão sobre as nossas origens, sobre a defesa dos indígenas, dessa gente forte e resiliente”, disse Emanoel Araújo, diretor-curador do Museu Afro Brasil.
Serviço:
Nome: Embyra (Restos)
Local: Museu Afro Brasil
Abertura: 04 de setembro, sábado
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Vila Mariana, São Paulo
Dias e horários: terça a domingo, das 11h às 16 horas
Entrada: Gratuita
CO YBY ORE RETAMA
A construção do lar, a partir de memórias afetivas, é tema constantemente presente na vida e trabalho de Zignatto. Para a exposição CO YBY ORE RETAMA (Esta Terra é Nosso Lugar), em cartaz a partir de 25 de setembro, no Museu da Cidade de São Paulo – Solar da Marquesa de Santos, ele equilibra forças de universos distintos – vida urbana e ancestralidade indígena – para reconstruir um Tekoa (lar) de fôlego em tempos de sufocamento. Com curadoria assinada por Sandra Ará Reté Benites e produção de Ellen Navarro, serão exibidas obras em diversos suportes, como escultura, instalação, performance, videoarte, objetos, pintura e fotografia, que se utilizam de materiais como concreto, cerâmica, saco de cimento, jenipapo, carvão e livros, misturando a vida urbana com o universo das aldeias.
“Apoiado sobre essas poucas memórias que me sobram como herança, na arte e suas muitas potencias, me esforço para desenvolver um processo de reflorestamento do universo ancestral de minha família, onde este esforço se inicia no território de meu próprio pensamento e espírito e toma forma em meu trabalho”, afirma o artista.
Memórias afetivas
Os trabalhos são frutos das memórias afetivas da época em que o artista atuou como pedreiro, dos 10 aos 14 anos de idade, e das memórias ancestrais de sua família indígena Tupinaky’ia e Guarani. “A arte é o meio possível que encontrei para equalizar as memórias afetivas de minha vida urbana e de minha experiência como pedreiro participante da construção de cidades com minhas memórias ancestrais indígenas”, comenta.
Serviço:
Nome: CO YBY ORÉ RETAMA (Essa Terra é o Nosso Lugar)
Curadoria: Sandra Ará Reté Benites
Produtora: Ellen Navarro
Local: Museu da Cidade de São Paulo – Solar da Marquesa de Santos
Abertura: 25 de setembro, sábado
Endereço: Rua Roberto Simonsen, 136, Sé, Centro Histórico de São Paulo
Dias e horários: terça a domingo, das 11h às 15h
Entrada: Gratuita
Quem é Andrey Guaianá Zignnatto
Eu sou artista descendente por pai dos povos Tupinaky’ia Guaianás que habitaram os territórios onde hoje é chamado São Paulo, etnia indígena que sofreu apagamento total de seu universo ancestral. O que restou deste povo e seu universo são alguns relatos em textos produzidos por seus colonizadores. Por parte de minha mãe, descendo dos Guarani Mby’a, povo que me tem auxiliado num processo pessoal de retomada como aba (homem) indígena. Apoiado sobre essas poucas memórias que me sobram como herança, na arte e suas muitas potências, me esforço para desenvolver um processo de reflorestamento do universo ancestral de minha família, esforço que se inicia no território de meu próprio pensamento e espírito. A reconstrução desse Tekoa* toma forma em cada trabalho produzido durante estas pesquisas e pode se expandir para muitas dimensões durante cada exposição, na experiência do contato entre o público e cada trabalho.
*TEKOA literalmente, significa o lugar do modo de ser guarani, sendo esta categoria modo de ser (tekó) entendida como um conjunto de preceitos para a vida, em consonância com os regramentos cosmológicos herdados pelos antigos guaranis.