27/08/2021 às 15h05min - Atualizada em 27/08/2021 às 15h05min

De Fleury para Frei Tito: Câmara Municipal de São Paulo troca nome de rua de torturador por torturado na ditadura

Frei Tito foi uma das vítimas do delegado Fleury durante a repressão do regime militar brasileiro.

A Câmara Municipal de São Paulo – SP aprovou, na quarta-feira (25), o Projeto de Lei n° 243, de abril de 2013, que nomeia de Rua Frei Tito a atual Rua Doutor Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo – SP.

A proposta é de autoria do vereador Arselino Tatto (PT), que entende que, com a mudança do nome, haverá uma “reparação histórica e simbólica”.

Fleury foi delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS) durante a ditadura militar, na década de 60. Ele é apontado como um dos torturadores do Frei Tito, um frade católico que foi perseguido durante o regime militar.

“Vivemos tempos difíceis e sombrios, há um movimento de negação da existência da ditadura militar em nosso país, e Frei Tito é prova de que o regime ditatorial não só existiu como a tortura cometida naquele período o levou ao suicídio. É uma reparação histórica que seu nome substitua o do delegado Fleury, um dos seus principais torturadores”, disse o vereador.

Em 2010, a Câmara Municipal aprovou um projeto de lei que acrescenta incisos à Lei n° 14.454 , que trata sobre nomes de logradouros públicos e parques, permitindo a alteração das denominações e de nomes de ruas que até então homenageavam pessoas apontadas por violarem os direitos humanos.

O frei dominicano Tito de Alencar Lima, que agora será homenageado na Vila Leopoldina, foi um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil, onde parte da Igreja, impulsionada pelo Concílio Vaticano II, alinhou sua luta com as lutas sociais em prol da vida da população mais pobre.

Militante do movimento estudantil, Tito participou de várias manifestações contra a ditadura de 1964 e, mesmo após o exílio, dedicou sua vida a denunciar as crueldades que pairavam pelo Brasil naquela época.

Preso por Fleury e torturado pela “equipe” de carrascos orientados pelo delegado, que também era admirador de Ustra, Tito teria recebido choques elétricos na língua. Os torturadores, por deboche, diziam que aquilo era a “hóstia sagrada”, chamavam de “comunhão”.

Frei Tito foi encontrado enforcado no dia 10 de agosto de 1974, durante seu exílio na França.

Sérgio Fernando Paranhos Fleury, mais conhecido como delegado Fleury, foi uma das figuras que melhor representou a violência promovida pela ditadura militar brasileira. Ele atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) a partir de 1968 e é considerado um dos repressores mais sanguinários do período.


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