Essa análise do arquiteto chileno Alejandro Aravena nos permite uma reflexão muito oportuna neste Dia Nacional da Habitação, celebrado em 21 de agosto. A moradia tem um papel fundamental na vida das pessoas: as condições e a localização da casa impactam diretamente na saúde, na qualidade de vida e no acesso a oportunidades de desenvolvimento como educação e empregabilidade. Nessa ótica, a moradia – como direito humano fundamental – tem uma abrangência maior do que o acesso a uma residência; interfere, diretamente, na relação da pessoa com a cidade e outros setores estruturantes.
Uma casa em condições inadequadas e precárias impacta negativamente na vida do cidadão. Ao transformar positivamente o morar – tornando-o um espaço dotado de segurança, dignidade e conforto –, provocamos um impacto transversal e positivo não apenas no cotidiano das famílias como em toda a sociedade. Se antes da pandemia o tema da habitação já era urgente, hoje é de extrema relevância, sobretudo por contribuir para melhorar a vida de um contingente de pessoas, que reside em condições inadequadas.
Em uma análise mais acurada, notamos que nas diversas dimensões que envolvem a casa – tanto subjetivas, relacionadas a valores afetivos e culturais, quanto práticas, abarcando segurança e renda – está a chave para entender que morar é afeto e refúgio (valor emocional da casa, local de recolhimento e convívio); ascensão social (a realização do sonho da casa própria é um dos símbolos de ascensão social); segurança financeira (pode ser um ativo que possibilita trabalho e potencial de renda com aluguel e revenda); e geração de renda (fonte para atividades profissionais como salão de cabeleireiro, produção artesanal). Readequar uma moradia insalubre é uma faísca para a transformação social.
É urgente atuarmos para alcançar, juntos, um Brasil mais habitável para todos e todas. Diante desse cenário – e na perspectiva do empreendedorismo de impacto socioambiental –, penso que devemos dar suporte para potencializar o enorme talento que empreendedores e empreendedoras têm de desenvolver soluções inovadoras para atuar, em especial, no combate ao déficit qualitativo. Já temos, no Brasil, empresas com bons resultados e forte comprometimento em tornar as moradias da população em situação de vulnerabilidade social e econômica mais seguras e dignas.
Maure Pessanha: Empreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.