23/03/2021 às 20h36min - Atualizada em 23/03/2021 às 20h36min

“Kit covid” causa morte de 3 e leva outros pacientes para fila de transplante

Dois óbitos por hepatite por remédios do “kit covid” foram registrados no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo - SP, e um em Porto Alegre - RS. O que havia em comum entre os casos? Todas as vítimas ingeriam os remédios ineficazes defendidos por Bolsonaro e de uso incentivado pelo Ministério da Saúde.

Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo levantou que três brasileiros morreram com problemas hepáticos após o consumo excessivo do chamado “kit covid”, nome dado ao conjunto de remédios ineficazes para o tratamento do novo coronavírus.

Os medicamentos cloroquina, azitromicina e ivermectina, defendidos e de uso incentivado por Jair Bolsonaro (Sem Partido) como “tratamento precoce”, podem causar hepatite e já levaram diversos pacientes para a fila de transplante de fígado no Brasil.

Dois óbitos por hepatite por remédios do “kit covid” foram registrados no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo - SP, e um em Porto Alegre - RS. O que havia em comum entre os casos? Todas as vítimas ingeriam os remédios ineficazes defendidos por Bolsonaro e de uso incentivado pelo Ministério da Saúde.

“Eles chegam com pele amarelada e com histórico de uso de ivermectina e antibióticos. Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, diz Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP, ao jornal.

Vale lembrar que o Ministério da Saúde, ainda comandado pelo general Pazuello, incentivou o uso massificado desses medicamentos através do aplicativo "TrateCOV". O app direcionado a médicos sugeria um tratamento para a doença a partir de uma ficha médica do paciente. Os remédios do “kit covid” eram receitados, inclusive, para pacientes com doenças hepáticas e bebês.

Segundo os especialistas, o problema da ministração desses medicamentos não aparece na maioria das pessoas. Os médicos dizem que é justamente em quem desenvolve a Covid-19 em sua forma mais grave que as lesões hepáticas são mais comuns. Somam-se sequelas ao já doloroso processo de recuperação da Sars-COV-2. Os profissionais de saúde também relatam que a chance de sobrevivência dos pacientes que fizeram tratamento precoce é ainda menor.

“A preocupação maior é com os 15% que desenvolvem forma grave da doença e acabam vindo para a UTI. É nesses pacientes que os efeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida”, explica o médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, à BBC.

“A falta de organização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% (das mortes), mas contribuiu”, completa Carlos Carvalho, que também é professor da Faculdade de Medicina da USP.


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