04/03/2021 às 12h19min - Atualizada em 04/03/2021 às 12h19min

Maior fabricante de hidroxicloroquina, Apsen recebeu R$ 20 milhões do BNDES em 2020

Farmacêutica comandada por apoiador de Bolsonaro assinou empréstimo público de R$ 153 milhões no ano passado - dos quais 13% foram desembolsados no início da pandemia; empresa afirma que pediu créditos em 2019.

A Apsen Farmacêutica, principal fabricante de hidroxicloroquina do Brasil, assinou dois contratos de empréstimo com o BNDES em 2020, no total de R$ 153 milhões, para investir em atividades de pesquisa e ampliar sua capacidade produtiva. O valor é sete vezes maior do que o crédito liberado para a empresa nos 16 anos anteriores somados.

O primeiro acordo, assinado em fevereiro de 2020, prevê financiamento de até R$ 94,8 milhões para o “plano de investimentos em inovação” da companhia. Desse montante, o banco desembolsou R$ 20 milhões em março do ano passado.

Já o segundo financiamento, de R$ 58,9 milhões, foi assinado em junho para “ampliar a capacidade produtiva e de embalagem no complexo industrial da Apsen, em São Paulo”. Os recursos aprovados neste acordo ainda não foram liberados pelo BNDES. As informações constam no site da instituição, que usa recursos públicos para oferecer empréstimos com juros abaixo dos praticados pelo mercado.

O presidente da Apsen, Renato Spallicci, é antigo apoiador de Jair Bolsonaro (Sem Partido) e, na pandemia, ganhou o ex-capitão como “garoto-propaganda”. Bolsonaro, que defende o medicamento para tratar a Covid-19, mesmo com a ineficácia comprovada, exibiu a caixinha de hidroxicloroquina da empresa em diversas ocasiões: na posse do general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, em aglomerações em Brasília, em um encontro virtual dos líderes do G-20 e até para a ema do Palácio do Alvorada.

As vendas de hidroxicloroquina - que é eficaz contra malária e doenças reumáticas, segundo a bula -, ajudaram a Apsen a alcançar faturamento recorde no ano passado, próximo de R$ 1 bilhão. Alta de 18% em relação ao ano anterior, dos quais 2,7% se devem ao remédio. A farmacêutica produz outros medicamentos cujas vendas aumentaram em 2020 em função da pandemia, como vitamina D e antidepressivos.

A Apsen é a líder do mercado nacional de hidroxicloroquina - e maior beneficiada pela comercialização recorde do produto em 2020. Sua medicação está no mercado há 19 anos e respondeu por 78% das vendas no ano passado, segundo a farmacêutica.

A empresa afirmou que não usou o financiamento público na fabricação do remédio, mas que pediu os empréstimos para investir em projetos de “expansão da empresa e linhas de produtos”. A Apsen disse que os investimentos já estavam previstos antes da pandemia, informação confirmada pelo BNDES. Os pedidos foram feitos em 2019, mas os contratos assinados em 2020 - e a maior parte dos recursos ainda não foi desembolsada pelo banco.


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