22/01/2021 às 16h45min - Atualizada em 22/01/2021 às 16h45min

CoronaVac não tem eficácia garantida se a 2ª dose for adiada, diz Butantan

Em razão da escassez de doses do imunizante no Brasil, medida está sendo cogitada como solução. Alternativa cria hiato na campanha de vacinação.

A eficácia da CoronaVac não é garantida se os pacientes adiarem a aplicação da segunda dose do imunizante. A informação foi confirmada pelo Instituto Butantan na quinta-feira (21) em meio às discussões de adiamento para que o número de pessoas vacinadas aumente.

A sugestão, que foi mencionada pelo secretário municipal de saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, não está de acordo com o que os desenvolvedores da vacina recomendam.

Segundo o Instituto, o estudo clínico da vacina foi projetado para avaliar a eficácia do produto com duas aplicações num intervalo de 14 a 28 dias, e não é possível tirar conclusão sobre a resposta imune de pacientes que passem um período muito mais longo entre as duas doses.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirmou também que não recomenda a prática do adiamento da segunda dose da CoronaVac. A eficácia geral da vacina contra adoecimento foi de 50,4% e a proteção contra casos graves foi de 78%. Esses percentuais, porém, só valem dentro do regime de duas doses.

“Não há dados científicos que sustentem uma decisão de dar a segunda dose da CoronaVac num intervalo diferente daquele entre duas e quatro semanas”, disse o diretor da entidade, Renato Kfouri, ao jornal O Globo .

“Os estudos de fase 2 mostraram uma pequena vantagem em dar na quarta semana após a primeira, mas são estudos menores. E os estudos de fase 3, de eficácia, foram realizados no prazo de 14 dias. Então não existe base para nada diferente disso”, afirmou.

Soranz disse hoje que “há uma discussão científica” sobre a possibilidade de manipular a estratégia de dosagem da vacinação, mas esta vem ocorrendo mais com outras vacinas que não a CoronaVac.

A maioria das vacinas de Covid-19 que estão em fase 3 de pesquisa são projetadas para regime de duas doses. Diante da falta de imunizante para vacinar grandes população, outros países já começaram a discutir a estratégia de adiar a segunda dose, o que permitiria cobrir um público maior com a primeira.

Saber se a tática do adiamento surte efeito, porém, requer estudos específicos, que já começaram a ser feitos para algumas vacinas de Covid-19, afirma o Instituto de Vacinas Sabin, de Washington (EUA).

“Até a gente ter esses resultados, fazer isso pode ser um tiro no pé”, afirma a cientista brasileira Denise Garrett, vice-presidente do instituto.

“Não dá para tentar isso com qualquer vacina. É um jogo muito arriscado, e isso nunca seria considerado se a gente não estivesse numa situação tão crítica”, completa a médica.

Segundo Denise, um outro risco associado a estender o período para aplicação da segunda dose é o de dar espaço para vírus sofrer mais mutações e adquirir características de resistência, ao sobreviver à seleção natural de uma imunidade parcial.


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