26/05/2020 às 21h08min - Atualizada em 26/05/2020 às 21h11min

Liberais apenas reiteram o senso comum

Ao reiterar o senso comum, esses liberais falam aquilo que a população já sabe, e cada um que os escuta fica feliz e diz: “nossa! falaram aquilo que eu penso, sinal de que sou inteligente!”. E assim os medíocres vão endossando o liberalismo de gente como Gabriela Prioli, Atila Iamarino, Karnal e Antônio Villa.

Pessoas como Gabriela Prioli, Atila Iamarino, Karnal e Antônio Villa podem falar que no Brasil existe desigualdade social. Liberais não estão proibidos de falar que existem pobres. Esse não é o problema do discurso liberal. O seu defeito é que um tal discurso nunca consegue nos dar uma boa narrativa sobre como que a pobreza é produzida.

O discurso dos pensadores liberais é o de que há pobres, e ponto. As pessoas são pobres porque nasceram filhos de pobres em áreas de pobreza. Em suma, esta é a narrativa dos liberais menos conservadores. A narrativa dos liberais mais conservadores diz que as pessoas são pobres porque são menos capazes ou simplesmente muito preguiçosas. O mecanismo de produção da pobreza nunca é mencionado. Na verdade, em geral os liberais não sabem como podemos ter pobres.

A narrativa de Marx continua sendo ainda a melhor a esse respeito. É a que mostra a produção de mais-valia. Nas fábricas, o trabalhador fica dez horas na linha de produção e ganha uma quantia X. No dia seguinte, ele também fica dez horas, mas o patrão põe em sua mão uma maquinaria, ele produz mais e a abundância na produção diminui preços em geral e isso resulta em enormes vendas. O patrão passa a ganhar mais, mas não repassa isso ao seu trabalhador. Ele foi contratado por dez horas, e é pago honestamente por essas dez horas, o mesmo X, ainda que sua produtividade tenha sido maior. Este mais valor produzido é só do patrão. Essa mais-valia gera a distância crescente entre ricos e pobres. Ela é parte essencial da produção da pobreza.

Mas os trabalhadores devem reservar um tanto do salário para pagar impostos. Então, o estado fica com dinheiro dos trabalhadores. Todavia, o estado promete ao trabalhador que esse dinheiro voltará a ele multiplicado em obras sociais de todo tipo, e que é isso que garantirá o funcionamento da cidade. Todavia, quando estamos diante de uma pandemia, como é o caso, o trabalhador descobre que o SUS não recebe o aporte financeiro necessário. Eis que aí há também a expropriação de mais-valia. Trata-se da expropriação da mais valia social. Essa expropriação é fruto de políticas estatais que não privilegiam o aparato público que possa vir a atender os trabalhadores. O estado, dominado pelos patrões e os mais ricos através da democracia, acaba por carrear recursos para setores que só interessam a esses patrões e ricos.

Além disso, há outra parcela de mais-valia social retirada dos trabalhadores. É que os processos de trabalho geram conhecimento, e essa ciência fica nas práticas do trabalho, em vários níveis, e logo é apropriada como meio de produção pelos ricos que, enfim, triplicam seus lucros com isso. Quando olhamos os mecanismos de registros de patentes e de controle da produção do conhecimento, isso nos mostra que aí a mais valia retirada pelos setores mais ricos da população é a chave da expropriação no mundo atual.

Esses dois últimos mecanismos geram distanciamento social maior que aquele inicial, o de expropriação tradicional de mais-valia. Mais pobres são criados por essa situação contemporânea.

Essa narrativa é sempre ou desconsiderada ou simplesmente negada pelos liberais. Eles vivem dizendo: ora, mais valia não existe, já refutaram Marx a respeito disso. No entanto, quando lemos a refutação, ela é pífia. Em geral ela não parte dos conceitos de Marx, ela simplesmente dogmatiza e naturaliza o mercado. Serve para jovens ignorantes, em geral defensores de algo chamado anarco-capitalismo, gritarem na Internet. Todo jovem ignorante grita na Internet. Os nomes citados acima podem até se alimentar disso. Mas, não raro, nem a isso chegam, eles realmente sequer conseguem se lembrar da pergunta sobre como se produzem pobres. Eles estão ideologizados. Repetem o pensamento liberal. Continuam na TV e na mídia em geral porque reiteram o senso comum.

Quem reitera o senso comum é sempre premiado.

Ao reiterar o senso comum, esses liberais falam aquilo que a população já sabe, e cada um que os escuta fica feliz e diz: “nossa! falaram aquilo que eu penso, sinal de que sou inteligente!”. E assim os medíocres vão endossando o liberalismo de gente como Gabriela Prioli, Atila Iamarino, Karnal e Antônio Villa. Essas pessoas podem ser bem intencionadas até (embora o Villa tenha sido pego pelo Haddad mentindo!), mas de boa intenção a pavimentação do caminho do inferno está saturado.

Paulo Ghiraldelli, 62, filósofo.


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