15/05/2020 às 22h33min - Atualizada em 15/05/2020 às 22h33min

Jornal O Estado de S. Paulo recorre para certificar que exames de coronavírus são de Bolsonaro

Para advogado do jornal, não há garantia de que os laudos, onde constam codinomes, são realmente do presidente e nem se foram entregues todos.

O jornal O Estado de S.Paulo entrou nesta sexta-feira (15) com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para certificar que o presidente Jair Bolsonaro entregou mesmo à Justiça todos os exames de novo coronavírus.

A Justiça Federal de São Paulo e o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) haviam garantido o direito do jornal ter acesso aos laudos de todos os exames de Bolsonaro por conta do interesse público em torno da saúde do chefe do Executivo. O governo, no entanto, conseguiu barrar a divulgação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o que levou o jornal a entrar com uma ação no STF.

Antes mesmo de o ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso, tomar uma decisão, a defesa de Bolsonaro encaminhou ao STF três laudos - com codinomes - que informam resultado negativo. Em um deles, da Fiocruz, não há CPF, RG, data de aniversário nem qualquer outra informação que vincule o documento ao presidente. Para o jornal, a entrega espontânea de documentos atribuídos a Bolsonaro não encerra o caso.

“Impossível saber de antemão se realmente foram entregues todos os laudos de exame a que submetido o sr. Presidente da República, voltados a constatar tenha ou não Sua Excelência contraído a COVID-19 - e até mesmo se de fato a si aludem, já que utilizados pseudônimos e, no último deles, dado algum há que minimamente indique quem é o paciente”, afirmou Afrânio Affonso Ferreira Neto, advogado de O Estado de S.Paulo.

A Fiocruz informou que emitiu um laudo de Covid-19 atribuído a Bolsonaro considerando uma solicitação “advinda do gabinete da Presidência da República”. norma da ANVISA. A defesa de Bolsonaro tem sustentado que usou codinomes para proteger a privacidade do presidente.

Uma resolução da ANVISA exige que o laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial solicitem ao paciente um documento que comprove a sua identificação. No papel da Fiocruz, o laudo é atribuído genericamente ao “paciente 5”, sem nenhuma informação adicional do sujeito.

Juristas consultados pelo jornal avaliam que o documento sozinho não oferece garantia de que o laudo é do presidente. A vinculação do laudo do “paciente 5” a Bolsonaro é feita em um outro papel, um ofício assinado pelo coordenador de Saúde da Presidência, o urologista Guilherme Guimarães Wimmer. O correto seria a informação vir do laboratório, que é “um terceiro não interessado”.

O jornal também entrou com recurso no STJ contra a decisão do presidente do tribunal, João Otávio de Noronha, que suspendeu a obrigação para que Bolsonaro entregasse os exames. A defesa do jornal aponta que, antes de decidir a favor de Bolsonaro, Noronha antecipou o seu entendimento sobre o tema ao dar uma entrevista ao site jurídico JOTA, o que contraria a Lei Orgânica da Magistratura Nacional.


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