25/04/2020 às 14h16min - Atualizada em 25/04/2020 às 14h22min

No “limite da barbárie”, diz Le Monde sobre evolução da pandemia no Brasil

O jornal francês Le Monde destaca em sua edição de sábado (25) que a pandemia se agrava no Brasil, onde o número de mortes atribuídas à Covid-19 aumenta, enquanto o presidente Jair Bolsonaro continua negando sua gravidade.

“Nós estamos no limite da barbárie”, diz o título do jornal, citando as palavras do prefeito de Manaus - AM, Artur Virgílio Neto (PSDB), em entrevista à imprensa após reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), na segunda-feira (20).

Na capital do Amazonas, o número de enterros triplicou e valas são cavadas com escavadeiras. “Nos hospitais sobrecarregados, os cadáveres são colocados em filas nos corredores, e os pacientes idosos são mandados para morrer em casa”, afirma o texto.

O Ministério da Saúde do Brasil divulgou na sexta-feira (24) o mais recente balanço de casos de coronavírus no país. Até o momento, foram ao menos 3.670 mortes e mais de 52 mil casos confirmados. Mas como lembra o correspondente em São Paulo, Bruno Meyerfeld, os números oficiais não são confiáveis, porque as autoridades não conseguem mais testar nem os vivos nem os mortos, e certos números da Covid-19 são informados com até 20 dias de atraso.

Segundo estimativas da imprensa brasileira, citadas no artigo, os casos de pessoas contaminadas seriam 12 a 15 vezes superiores ao número anunciado pelas autoridades. Já as vítimas mortais poderiam ter ultrapassado 15 mil, nos piores cenários.

Um cirurgião de um hospital Geral de Fortaleza - CE, que preferiu permanecer anônimo, diz que está em “uma guerra cotidiana”, por leitos e respiradores. Segundo o médico, 100% das vagas em terapia intensiva estão ocupadas no centro de saúde.

O artigo também comenta a falta de luvas e máscaras para profissionais de saúde nos hospitais de São Paulo, que tiveram que usar capas de chuva e sacos de lixo para se proteger, diz Sérgio Antiqueira, presidente do sindicato de empregados do setor, ao Le Monde. Alguns médicos e enfermeiros receberam apenas uma máscara descartável durante um mês.

Segundo a especialista do setor da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entrevistada pelo jornal, Lígia Bahia, o Brasil não está pronto para enfrentar a epidemia. Apesar de possuir milhares de leitos em UTIs, a grande maioria está no sistema de saúde particular, indisponível para a maioria da população.

Segundo o Le Monde, o resultado é que, em algumas regiões, o brasileiro deve percorrer até 155 quilômetros para conseguir os complexos tratamentos demandados pela Covid-19.

Bahia ressalta que a pandemia mostra a falência do sistema democrático brasileiro que em trinta anos, desde o fim da ditadura, não investiu para criar um sistema de saúde público eficiente para os mais pobres, que serão as primeiras vítimas. “Ele funciona primeiro para os ricos”, diz a especialista.

Le Monde lembra que apesar do drama vivido pelo país, o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), para quem o vírus não passa de uma “gripezinha”, defende um retorno rápido à normalidade. O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, considerado como submisso a Bolsonaro, “não convence ninguém”1, nem mesmo seus colegas de governo.

O jornal cita o Imperial College de Londres, segundo o qual, em caso de inação, a epidemia poderia fazer mais de 1 milhão de vítimas no Brasil. Apesar dos esforços dos governos estaduais para conter a contaminação, apenas metade dos brasileiros estaria seguindo as regras do confinamento e alguns estados já pensam em flexibilizá-las.

Prevendo o pior, segundo Le Monde, o estado de São Paulo ordenou em urgência que 13 mil novas valas fossem abertas e a compra de 38 mil caixões suplementares, além da construção de um novo cemitério. Os enterros serão feitos sem público e de noite, se necessário.

As informações são da Rádio França Internacional.


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