10/01/2024 às 15h16min - Atualizada em 10/01/2024 às 15h16min

Entre a lógica e o absurdo: um suspense irônico sobre a existência humana

Em “Meninos Suspensos”, D. B. Frattini constrói uma narrativa crítica, polifônica e com elementos de literatura noir para traçar diferentes perspectivas sobre os conflitos inerentes à vida.

Redação
Foto: D. B. Frattini
Daniel, principal narrador do romance Meninos Suspensos, está diante do corpo do amigo no necrotério. Ele precisa preparar tudo para o funeral e, em meio a esta obrigação, recorda alguns dos principais momentos da própria vida. Fiel ao fluxo de consciência, que não está preso a uma linha narrativa lógica, nem a um tempo cronológico, D. B. Frattini escreve um livro polifônico, crítico, repleto de suspense e com várias camadas de ironia.
 
A obra começa com a inevitabilidade da morte, entretanto, a história não foca no luto. Esta situação é somente um ponto de partida para que o protagonista mergulhe nos sentimentos experienciados durante as últimas seis décadas. A partir disso, ele narra situações cruciais de sua trajetória, como o assassinato dos pais durante a ditadura militar, o cotidiano no colégio religioso e a relação íntima com as artes.
 
Ao mesmo tempo que critica os costumes da sociedade brasileira, o autor reflete sobre os conflitos existenciais dos humanos. Com uma multiplicidade de vozes, os leitores são apresentados a vivências distintas: há o garoto com transtorno obsessivo compulsivo que, sem receber tratamento, é proibido de praticar os impulsos; a mulher que se casa com um homem para respeitar a decisão da família, porém o matrimônio beira à ruína; os jovens em um relacionamento homossexual que deverão renunciar à paixão para seguir a religião, entre outras.
 
Quem é que não carrega algum horror? Não conseguimos esquecer um instante sequer do ponto do mundo pisado por nossos pés. O medo é a companhia mais certeira. Vamos driblando as misérias e em todas as esquinas encontramos um novo susto. É uma guerra de destroços disfarçados; por aqui, viver em pânico virou algo comezinho. E além dos horrores cotidianos, carregamos também monstros internos. (Meninos Suspensos, pg. 87).
 
Meninos Suspensos é resultado não apenas do trabalho do escritor com a literatura, mas dos anos de experiência de D. B. Frattini nas artes cênicas. Dramaturgo aposentado, ele utiliza elementos do teatro do absurdo para compor a prosa. Além de apresentar personagens presos às próprias condições de vida, a narrativa desafia os conceitos de realidade do público: em muitos momentos, Daniel conversa com uma lagartixa na parede do necrotério, que fala em francês e faz perguntas complexas.
 
Apesar de ser um drama existencial, a obra contém um suspense solucionado somente nas últimas páginas e que envolve a morte de um dos personagens. O autor explica: “O leitor deve prestar muita atenção nos detalhes, como, por exemplo, Daniel esconde folhas de caderno dobradas nas vestes do amigo defunto. São minúcias que carregam a narrativa para o final. Este é um livro com o enredo calcado na morte de um ente querido, mas não se prende nisso, muito pelo contrário: é irônico, com muitas camadas cômicas, críticas e de suspense”.
 
Ficha técnica
Título: Meninos Suspensos
Autor: D.B. Frattini
Editora: Patuá
ISBN: 978-65-5864-581-8
Páginas: 234
Preço: R$ 60 (físico)
Onde encontrar: Editora Patuá

Sobre o autor
Nascido em Pouso Alegre, em Minas Gerais, D. B. Frattini mora na cidade Campo Limpo Paulista, em São Paulo. Trabalhou por décadas no teatro e agora se dedica integralmente à literatura. Nas artes cênicas, foi dramaturgo do Grupo Boi de Mamão e da Theatrais Folias Andracômicas, além de ter trabalhado em universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Formou-se pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, tem especialização em Fundamentos Estruturais da Composição Artística, Antropologia Teatral e Commedia Dell’Arte. Como escritor, participou da coletânea “Abraços Ausentes” (Letraria), publicou o livro de contos “Bofetada e Êxtase” (Autografia) e agora lança o primeiro romance da carreira, “Meninos Suspensos”, pela editora Patuá.
 
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