O anúncio feito pela Argentina de que deixaria de vender trigo ao Brasil por falta de estoque pode ter um componente “político”, disse a economista Anapaula Iacovino ao site Sputnik Brasil.
A justificativa argentina para interromper as exportações do produto ao Brasil é o aumento das vendas para outros mercados, principalmente países asiáticos. Com isso, não haveria mais estoque de trigo disponível.
Em entrevista para o site Sputnik Brasil, Iacovino disse que atitude da Argentina pode ser mais “política” do que “econômica”, uma retaliação a uma promessa feita por Jair Bolsonaro (Sem Partido) de zerar as tarifas de importação do trigo oriundo dos Estados Unidos.
Segundo ela, os desentendimentos passados entre Bolsonaro e o presidente argentino, Alberto Fernández, criam um clima de “má vontade” entre as duas nações.
Bolsonaro se mostrou abertamente descontente com a eleição do colega argentino, que também criticou o brasileiro. Depois de muitos atritos, os dois países ensaiaram uma aproximação pragmática, com a visita do chanceler argentino, Felipe Solá, ao Brasil.
“No momento em que há qualquer tipo de rusgas, qualquer tipo de atritos entre as principais lideranças, passa a existir uma certa má vontade de toda ordem, política e comercial. Nessa questão do trigo, não pode deixar de ser uma oportunidade para os argentinos responderem a uma provocação de Bolsonaro, que falou que faria um acordo de livre comércio na questão do trigo com os norte-americanos”, disse a economista.
Iacovino, no entanto, ressaltou que os argentinos só se sentiram “confiantes” e “tranquilos” para “elevar o tom”, interrompendo as vendas para o Brasil, após aumentarem as vendas para outros mercados.
“Nos últimos meses a Argentina vem dialogando com outros países, buscando novos mercados, o fato é que sentiu confiança aumentado as exportações para a Ásia”, afirmou.
A analista disse que a situação vai afetar o “dia a dia” dos brasileiros, com aumento de preços de vários produtos.
“Alguns analistas falam em aumento de 20% do pão, mas não será apenas o pãozinho, tem todo conjunto das massas, macarrão, tudo que depende da farinha de trigo vai sofrer um impacto", disse a professora.
A solução para o problema seria aumentar as compras de outros produtores. Iacovino cita União Europeia, Estados Unidos, o que pode ser “vantajoso” pela “proximidade política”, Canadá, Índia e até a Rússia.
A especialista, no entanto, frisou que mesmo com um aumento recente das tarifas de exportação impostas pela Argentina aos grãos, importar do país vizinho sempre foi mais barato.
A economista afirmou também que a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar “deixa a importação de outros países ainda mais cara”.
“Dificilmente a gente vai conseguir evitar que o cidadão brasileiro pague essa conta. Quer pelas questões cambiais, quer pelas relações comerciais com a Argentina”, afirmou Anapaula Iacovino.