20/03/2023 às 21h04min - Atualizada em 20/03/2023 às 21h04min

São Sebastião: racismo ambiental, descaso do poder público e mudanças climáticas são as principais causas

Tragédia ocorrida no litoral norte completa um mês no mesmo momento em que relatório do IPCC mostra efeitos da crise climática no mundo e Greenpeace Brasil apoia a revisão do Plano Nacional de Adaptação.

Redação
Assessoria de imprensa Greenpeace Brasil
Foto: Diego Baravelli/Greenpeace Brasil – Resultado da destruição na Vila Sahy em São Sebastião, litoral norte de São Paulo
Completou-se um mês da tragédia ocorrida na cidade de São Sebastião – SP, no litoral norte de São Paulo, no dia 18 de fevereiro, no qual fortes chuvas contribuíram para os deslizamentos de encostas, alagamentos, perdas materiais, milhares de pessoas desabrigadas e com o total de 65 óbitos, segundo dados divulgados pela Defesa Civil, sendo o bairro Vila Sahy a região mais atingida, com o maior número de mortes e desabrigados. No entanto, é incorreto culpabilizar apenas as chuvas pelo fato, quando há negligência por parte do poder público, que não oferece infraestrutura e condições de moradia digna para a população que habita em áreas vulnerabilizadas.
 
Neste mesmo momento em que a tragédia em São Sebastião é relembrada, acaba de ser divulgado, nesta segunda-feira (20), a última parte do 6º Relatório de Avaliação (AR6) Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC - sigla em inglês), que apresenta dados das principais causas, efeitos e soluções da crise climática no mundo e o que precisa ser feito com urgência para evitar um caminho de não retorno. O relatório apresenta que hoje estamos caminhando para um aquecimento de 3 graus em 2100 caso não haja uma mudança de rota.
 
Os pontos de atenção do relatório do IPCC dialogam com o ocorrido em São Sebastião e em outras cidades brasileiras, considerando que o documento demonstra que eventos extremos estão e irão se intensificar. "Estamos assistindo, com cada vez mais frequência e intensidade, a eventos extremos destruindo casas e matando pessoas. O acumulado de chuvas em São Sebastião chegou a 640mm em apenas 24 horas, isso é um reflexo da crise climática e cabe ao poder público trabalhar medidas para controlar a emissão de gases de efeito estufa, reduzir as taxas de desmatamento, promover o uso de energia renováveis e adaptar as cidades com participação das populações mais impactadas. É necessário também termos políticas habitacionais, de urbanização e de regularização fundiária destinadas à população negra e periférica para que elas possam se adaptar às mudanças do clima.", afirma Daniela Costa, gerente de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.
 
Eventos extremos desta natureza têm ocorrido com muito mais frequência no início de 2023 em outras cidades do país, como São Paulo (SP), Olinda (PE), Caratinga (MG), Rio de Janeiro (RJ) e, recentemente, Manaus (AM). O fato de áreas em condições vulneráveis serem as mais atingidas pelas chuvas com mortes e perdas materiais é o reflexo do racismo ambiental: "As áreas atingidas pelos impactos climáticos são habitadas em sua maioria por pessoas negras e pobres, o que demonstra mais uma vez o descaso do poder público em romper essa herança colonialista e promover políticas públicas para assegurar vida digna de todos", completa Daniela.

Greenpeace Brasil reforça a importância do PNA
Na presente data, a organização convida a população para participar do abaixo-assinado cobrando do governo federal a revisão e implementação do Plano Nacional de Adaptação (PNA), junto com o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres. Implementado em 2016, pelo Ministério do Meio Ambiente, o PNA tem como objetivo criar metas e estratégias governamentais para a gestão e redução de riscos que crescem devido à crise climática, entretanto, ele não foi revisado pelo governo Bolsonaro: É necessária a revisão do PNA para que se implementem ações em áreas de riscos que já foram mapeadas no Brasil em diversas regiões, de forma atualizar as metas e estratégias previstas a partir dos conhecimentos locais. A participação da sociedade, mais especificamente das populações pretas, periféricas e indígenas, é fundamental para um plano efetivo nos territórios.", finaliza Daniela.

Clique aqui e ajude a cobrar do governo federal a revisão e implementação do PNA.
 
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