09/03/2023 às 09h44min - Atualizada em 09/03/2023 às 09h44min

Vinícolas ligadas a trabalho escravo têm R$ 66 mi em empréstimos ativos no BNDES

Banco público estuda medidas que podem ser tomadas contra as empresas Salton, Aurora e Garibaldi.

Redação
Site Brasil de Fato
Foto: MPT-RS/Divulgação – Operação resgatou 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves – RS no dia 22 de fevereiro
Três vinícolas que usavam mão-de-obra de trabalhadores terceirizados mantidos sob condições análogas à escravidão têm ao menos 18 empréstimos ativos no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os quais totalizam R$ 66,2 milhões, as informações são do site Brasil de Fato.
 
Os dados de contratos firmados pelo BNDES com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton estão disponíveis no site do banco.
 
Empréstimos ativos são aqueles que não foram quitados pelas empresas. O site do BNDES não informa eventuais pagamentos parciais dos financiamentos. Isso quer dizer que é possível que uma parte dos R$ 66 milhões já tenha retornado ao banco.
 
Ao todo, essas mesmas empresas obtiveram 147 empréstimos com recursos do BNDES, no valor total de R$ 148 milhões. Desse total, 129 empréstimos, totalizando R$ 82 milhões, já foram liquidados.
 
Aurora, Garibaldi e Salton estão sediadas na chamada Serra Gaúcha. Foi lá, mais especificamente em Bento Gonçalves – RS, que foram resgatadas 206 pessoas, entre 18 e 57 anos, que colhiam uvas usadas pelas vinícolas a serviço de uma empresa terceirizada: a Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA.
 
Em entrevista ao Portal UOL na terça-feira (7), Tereza Campello, diretora da área socioambiental do BNDES, afirmou que o banco está fazendo um levantamento sobre medidas que podem ser tomadas contra as empresas. “Há um procedimento legal que tem que ser seguido”, ressaltou.
 
Segundo Campello, em último caso, o BNDES poderia determinar a antecipação do pagamento dos financiamentos ativos. “Se a empresa entra na lista suja do trabalho escravo, dependendo da situação, a empresa tem que devolver o dinheiro”.
 
Aurora
  • 25 empréstimos, com valor total de R$ 49 milhões
  • 6 empréstimos ativos, com valor total de R$ 29,2 milhões
  • Último empréstimo é setembro de 2022, de R$ 10 milhões
Garibaldi
  • 45 empréstimos, com valor total de R$ 25 milhões
  • 10 empréstimos ativos, com valor total de R$ 13,9 milhões
  • Último empréstimo é setembro de 2022, de R$ 1,4 milhão
Salton
  • 77 empréstimos, com valor total de R$ 73 milhões
  • 2 empréstimos ativos, com valor total de R$ 23 milhões
  • Último empréstimo é abril de 2022, de R$ 13 milhões
Total
  • 147 empréstimos, com valor total de R$ 148 milhões
  • 18 empréstimos ativos, com valor total de 66,2 milhões
Caso exemplar
Campello disse também que espera que o caso das vinícolas se torne um marco no combate ao trabalho análogo à escravidão. “Eu acho que esse caso vai ser exemplar”, disse. “É uma vergonha, uma tragédia, mas vai cumprir um papel, que é mostrar que daqui para frente as coisas vão ser diferentes”.
 
“Nossas regras estão sendo revisadas para impedir o atraso [trabalho análogo a escravidão]”, acrescentou. “Temos um dever de casa a fazer”.
 
Procurado para comentar os empréstimos específicos para as vinícolas, o BNDES não se pronunciou. O site do banco informa que eles são empréstimos indiretos, concedidos com recursos do banco por meio de bancos parceiros.
 
A vinícola Garibaldi também não se pronunciou sobre os empréstimos e eventuais punições do BNDES. Aurora e Salton não responderam.
 
As empresas divulgaram em seus sites cartas abertas se solidarizando com os trabalhadores resgatados e prometendo melhorias em seus processos.
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