26/01/2023 às 10h48min - Atualizada em 26/01/2023 às 10h48min

Livro de coronel que negava a existência dos Yanomamis reflete crença difundida no Exército, avaliam especialistas

Trata-se de “A Farsa Ianomâmi”, de autoria do coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto.

Redação
Portal g1
Um livro escrito pelo coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto, e publicado pela biblioteca do Exército em 1995, dizia, sem evidências, que a existência dos Yanomamis era uma farsa, as informações são do Portal g1.
 
“A Farsa Ianomâmi” vocalizou uma preocupação comum no Exército: o medo de perder soberania em áreas da Amazônia brasileira, diz João Roberto Martins Filho, professor titular da UFSCAR e pesquisador das Forças Armadas e Exército Brasileiro.
 
No livro, Menna Barreto afirmava haver um conluio entre ONGs e forças estrangeiras para “separar do Brasil” o território indígena, “cedê-lo aos fictícios ‘ianomâmis’ e “preparar a dominação futura da Amazônia [...] para a posterior criação de países indígenas independentes, sob a tutela das Nações Unidas”.
 
O Exército Brasileiro teme que terras indígenas se tornem independentes do Brasil, avaliam especialistas ouvidos pelo g1. O receio de que existam forças com segundas intenções e que desejam a Amazônia não se restringe às teorias do autor do livro.
 
Menna Barreto morreu em 1995, mas seu temor, comum entre oficiais do Exército na época, resiste. Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), já manifestaram receio de perder terras indígenas amazônicas.
 
Bolsonaro e Heleno são contra demarcação de territórios indígenas.
 
Em 1998, quando era deputado federal, Bolsonaro citou os Yanomami ao dizer que os Estados Unidos teriam interesse em uma “interferência militar na Amazônia tendo como pretexto a preservação do meio ambiente”. Quando deputado, Bolsonaro apresentou projeto para desfazer a Terra Indígena Yanomami, mas a proposta não foi adiante.
 
Hoje, os Yanomamis, sofrem com casos de malária e desnutrição grave.
 
O foco nos Yanomamis se dá, segundo Martins Filho, porque eles ocupam uma área extensa no Brasil e na Venezuela. “Por isso há todo tipo de conjectura sobre a possibilidade de perder esses territórios. Isso não existe”.
 
“Os militares veem a questão das terras indígenas com desconfiança sob o argumento frágil de que, em situação excepcional, essas áreas poderiam ser decretadas territórios livres, com representação na ONU, levando ao Brasil a perder o controle sobre aquelas áreas”, diz Martins Filho.
 
Os militares veem indígenas como “massa de manobra de interesses estrangeiros”, o que os tornaria ‘inimigos’ do Brasil”, afirma João Pedro Garcez, doutorando em História pela UFRGS, professor da rede estadual de Santa Catarina e pesquisador da memória Yanomami.
 
“Ao longo do governo Bolsonaro, vimos algumas iniciativas para tentar reverter a demarcação da Terra Indígena Yanomami – acredito que o livro de Menna Barreto tinha esse objetivo inicial: tentar influenciar a opinião pública contra a demarcação”.
 
O Exército funciona como uma “sociedade fechada altamente hierarquizada”, diz Garcez. Para o pesquisador, essa forma de funcionamento da instituição se reflete na produção de conhecimento. “A tese do Menna Barreto não é uma opinião isolada, mas reflete o que é um conhecimento difundido, para não dizer doutrinário, dentro do Exército acerca da questão indígena, mas poderíamos dizer também da questão ambiental”.
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