18/12/2019 às 10h40min - Atualizada em 18/12/2019 às 10h40min

É preciso educar para o FUTURO e não para o PASSADO

É o momento de tomarmos consciência de que o passado é sim importante e precisamos saber sobre ele para dar continuidade a costumes e aprender com nossos erros, mas também precisamos saber nos libertar dele para podermos viver melhor o presente e transformar de modo mais consciente nosso futuro.

Nós, humanos, temos uma tendência a ficarmos presos em nosso passado. Prova disso são as nostálgicas postagens que vemos sobre “você se lembra disso?” nas redes sociais e a animação que certamente você já percebeu em conversas quando se relembra fatos passados.

Parece que ficamos “encapsulados” em gerações e muitos de nós temos dificuldade de sair desta cápsula e viver o presente... imagine o futuro!

É reconfortante lembrar da juventude, dos amigos, do mundo de coisas que vivíamos entre infância e adolescência, porque simplesmente nos dedicamos ao que esta parte da vida oferece. Quando crescemos e temos responsabilidades, começamos a não perceber novidades, não vivenciar “o momento” e parece que nossa experiência de mundo fica para trás e entramos nesta cápsula temporal de coisas “do nosso tempo”.

A segunda cápsula do tempo

Quando temos um filho, nos deixamos entregar novamente às experiências que ele vive. Os pais vivenciam com seus filhos novidades do mundo e voltam a viver por meio de seu mensageiro, o próprio filho, no mundo presente, aspirando o futuro.

Passamos a conhecer novos desenhos, novas brincadeiras, revemos o mundo escolar em companhia de nossos filhos e isso nos fornece uma nova cápsula para experimentar que, embora não seja nossa, nos dá energia renovada e lembraremos desta época por muito tempo.

Lembramos que devemos pensar no futuro... de nossos filhos, mas tentamos educar eles para o passado. Embora vivenciemos as novidades do presente, com possibilidade de pensar num futuro mais objetivo, somos movidos pela nostalgia e queremos mostrar para eles nosso passado. Esta parte é importante e faz parte da aprendizagem: saber de onde viemos e como o mundo era antes.

O grande perigo é ficar preso no tempo e não proporcionar a oportunidade de pensar mais abertamente sobre o que está por vir. Sabemos ensinar bem sobre o passado, mas tão bem que ficamos estagnamos. Não aprendemos com nossos erros e continuamos fazendo o que nossos pais faziam. Mostramos o quanto é importante o passado e apenas falamos que é importante pensar no que nosso filho vai ser quando crescer.

A pergunta que deveríamos estar nos perguntando é o que fazer para a criança conseguir conviver com o futuro. Ensinamos a acomodação, quando deveríamos ensinar a pró atividade.

A cápsula eterna do tempo

A maior prova de nossa estagnação em relação ao tempo é a escola, infelizmente. Aquela que deveria olhar constantemente para o futuro é a que mais se prende ao passado, não somente por culpa dela, mas também porque a sociedade espera que ela ensine o “legado do passado” para as crianças e muitos professores também estão dentro da armadilha do tempo, assim como os pais.

Dia após dia a escola perde propósito e relevância, com sua lentidão em se adaptar aos novos sistemas educativos, com sua desorientação em relação a novas formações e também com a resistência dos profissionais em aprenderem novidades e aplica-las. Novamente a acomodação nos impede de avançar.

A digitalização do mundo ajuda a conectar pessoas, cidades, países, continentes, a informação é mais rápida, mas nem por isso real, na maioria dos casos. Qualquer pessoa pode mudar o mundo para melhor ou pior com a ajuda da tecnologia, porém o mais preocupante é que quem deveria guiar o certo e o errado de nosso futuro, ou seja, a escola, não consegue se organizar para estar consciente de seu papel e poder ajudar os alunos a perceberem competências que serão úteis em seu futuro. A digitalização tornou o mundo mais complexo, mas volátil e mais incerto e é neste ponto que a escola deveria mostrar sua competência, analisando o cenário e prevendo quais novas competências devem ser incorporadas ao currículo.

A beleza fora das cápsulas

O pensamento pedagógico é que ensinamos ao aluno coisas que ele irá usar durante sua vida, mas faz tempo que isso não é verdade, porque ensinamos fatos e fatos podem ser pesquisados facilmente na internet. Os fatos podem ser um ponto de partida, mas o que devemos ensinar mesmo é o que fazer com os fatos, como entendê-los, como estudá-los, como aumentarmos nossa capacidade de aprendizagem e adaptação. O mundo nos recompensa atualmente pelo que conseguimos fazer e não pelo que sabemos. Não adianta saber um montão de matérias escolares e informações fossilizadas, se não sabemos o que fazer com elas, como aplicá-las para facilitar a nossa vida e a dos outros.

É preciso ter a habilidade de não ficar preso nas cápsulas de tempo, de saber se adaptar ao novo. Aprender envolve muito mais do que as avaliações nos cobram nas escolas, envolve conhecimentos e informações, conceitos e ideias, habilidades práticas e intuição. Lidar com as pessoas também faz parte da aprendizagem: equidade e liberdade, autonomia e comunidade, inovação e continuidade.

Tudo isso deve fazer parte de nosso objetivo de evolução. Todos sabemos que ficar preso é ruim, mas nos prendemos inconscientemente ao tempo e acabamos passando isso para nossos filhos e alunos.

É o momento de tomarmos consciência de que o passado é sim importante e precisamos saber sobre ele para dar continuidade a costumes e aprender com nossos erros, mas também precisamos saber nos libertar dele para podermos viver melhor o presente e transformar de modo mais consciente nosso futuro.

Especialista em educação, Janaína Spolidorio é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. Ela atua no segmento educacional há mais de 20 anos e atualmente desenvolve materiais pedagógicos digitais que complementam o ensino dos professores em sala de aula, proporcionando uma melhor aprendizagem por parte dos alunos e atua como influenciadora digital na formação dos profissionais ligados à área de educação.


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